É de conhecimento
que o auto-conceito que as pessoas com necessidades adaptativas formulam acerca
de si próprias, será, largamente, influenciado pela sua história de vida e pelo
ambiente no qual a mesma se insere. Nesse sentido, o modo através do qual o
“outro” lida com essas pessoas poderá levá-las a uma percepção de si que pode
ser tanto de ordem positiva, quanto de ordem negativa. Questão esta que é
retratada com extrema sensibilidade nas lentes fílmicas d’ O Circo Borboleta, produzido
em 2009, sob a direção de Joshua Veigel.
O personagem
principal (Will) era tratado como um ser atípico, isto é, como se fosse uma
“aberração da natureza” e sua única função era a de promover o divertimento de
mulheres, homens e crianças que visitavam o circo em que ele trabalhava. Tudo
isso, porque Will não possuía membros inferiores e superiores. Os olhares, ora
piedosos, ora sarcásticos que lhe eram direcionados interferiam sobremaneira na constituição de sua subjetividade. Pois,
Will se atentava para apenas o que “ele não tinha”. Fato este que, não abria
espaço para outras possibilidades de se constituir enquanto sujeito.
No entanto, a partir
do instante em que Will passa a conviver com outras pessoas (que também faziam
parte de um circo, mas que dessa vez tratavam o ser humano com respeito e
dignidade), a sua mente voa para outras possibilidades, outros caminhos e como
a lagarta que se transforma em uma borboleta, Will passa a enxergar a si
próprio e a realidade através de outras lentes.
Entretanto, de que
modo a lagarta se transformou em borboleta? Estas novas pessoas o tratavam para
além de suas limitações, o tratavam como alguém que poderia utilizar de
diversas estratégias para adquirir autonomia, dignidade, auto-confiança, amor
próprio. Conceitos esses, tão caros para uma pessoa que até então tinha sido
vista com olhares de desdém e pena.
Com o desenrolar do
filme, um novo Will, paulatinamente, vai se descobrindo e criando suas próprias
potencialidades, na medida em que, os seus novos amigos o incentivam a ter um
comportamento diferente, diante de suas limitações. Comportamento este que,
como diria o anarquista francês Fernand Pelloutier, o ajudou a conquistar a
“tímida e frágil flor que se chama o amor à liberdade”.
Fernanda Caroline de Melo
Rodrigues é graduada em história e graduanda em psicologia pelo Unipam.
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