sábado, 8 de setembro de 2012

SOBRE LAGARTAS E BORBOLETAS...




É de conhecimento que o auto-conceito que as pessoas com necessidades adaptativas formulam acerca de si próprias, será, largamente, influenciado pela sua história de vida e pelo ambiente no qual a mesma se insere. Nesse sentido, o modo através do qual o “outro” lida com essas pessoas poderá levá-las a uma percepção de si que pode ser tanto de ordem positiva, quanto de ordem negativa. Questão esta que é retratada com extrema sensibilidade nas lentes fílmicas d’ O Circo Borboleta, produzido em 2009, sob a direção de Joshua Veigel.
O personagem principal (Will) era tratado como um ser atípico, isto é, como se fosse uma “aberração da natureza” e sua única função era a de promover o divertimento de mulheres, homens e crianças que visitavam o circo em que ele trabalhava. Tudo isso, porque Will não possuía membros inferiores e superiores. Os olhares, ora piedosos, ora sarcásticos que lhe eram direcionados  interferiam sobremaneira  na constituição de sua subjetividade. Pois, Will se atentava para apenas o que “ele não tinha”. Fato este que, não abria espaço para outras possibilidades de se constituir enquanto sujeito.
No entanto, a partir do instante em que Will passa a conviver com outras pessoas (que também faziam parte de um circo, mas que dessa vez tratavam o ser humano com respeito e dignidade), a sua mente voa para outras possibilidades, outros caminhos e como a lagarta que se transforma em uma borboleta, Will passa a enxergar a si próprio e a realidade através de outras lentes.
Entretanto, de que modo a lagarta se transformou em borboleta? Estas novas pessoas o tratavam para além de suas limitações, o tratavam como alguém que poderia utilizar de diversas estratégias para adquirir autonomia, dignidade, auto-confiança, amor próprio. Conceitos esses, tão caros para uma pessoa que até então tinha sido vista com olhares de desdém e pena.
Com o desenrolar do filme, um novo Will, paulatinamente, vai se descobrindo e criando suas próprias potencialidades, na medida em que, os seus novos amigos o incentivam a ter um comportamento diferente, diante de suas limitações. Comportamento este que, como diria o anarquista francês Fernand Pelloutier, o ajudou a conquistar a “tímida e frágil flor que se chama o amor à liberdade”.

Fernanda Caroline de Melo Rodrigues é graduada em história e graduanda em psicologia pelo Unipam.

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