sexta-feira, 5 de junho de 2015

Semana de História – UFU/ 8-12 de junho de 2015




GRUPO 4: Das insurgências populares no século XVIII à mobilização dos movimentos sociais contemporâneos no século XXI: sobre a atualidade da ação direta.


Coordenador: Munís Pedro Alves (Instituição: Universidade Federal de Uberlândia) e Thiago Lemos Silva (Titulação: Mestrado | Instituição: UNIPAM)


Ementa:

“Repudiamos a ação eleitoral e parlamentar, que só serve para reforçar o Estado e adormecer as energias populares. O nosso método é ação direta que […] tende a despertar a iniciativa e a coragem, leva a agir por conta própria, a unir-se, a viver sem tutela” (VASCO, Neno. O que somos. A Plebe. São Paulo,n º54, 28/07/1920). Ao enunciar sua definição dos militantes anarquistas engajados com o jornal A Plebe, Neno Vasco introduziu uma imagem capaz de traduzir o aspecto essencialmente pedagógico da ação direta, que impregnou profundamente a luta política levada pelo movimento operário brasileiro durante o contexto que abarca o período da Primeira República. Inscrevendo a ação direta no coração da política, Neno Vasco e seus companheiros de viagem apostavam na possibilidade de o proletariado aprender, por si mesmo, a lutar em prol dos interesses da sua classe social, construir a consciência dos antagonismos entre capital-trabalho, superar a função do Estado e, por conseguinte, revolucionar a sociedade capitalista. A ação direta enquanto estratégia de luta, entretanto, não foi inventada pelo movimento operário brasileiro de fins do século XIX e, muito menos, restringe-se ao mundo trabalho. Inscrita em uma dinâmica histórica que nos remete, pelo menos, já ao século XVIII, a ação direta se fez presente por meio da participação massiva de setores populares durante a Revolução Francesa, e assumiu contornos mais delineados no século XX, durante uma série de episódios de convulsão social protagonizados pela jovem classe proletária, tais como greves, sabotagens, boicotes e, não raro, revoluções ( Rússia, Alemanha e Espanha), até chegar aos movimentos sociais contemporâneos : tais como o sem terra, sem teto, negro, indígena, feminista, GLBTT através de ocupações, atos, marchas e outras formas de manifestação que tem mostrado a atualidade do questionamento às regras que instituem e estruturam o campo do político segundo o jogo liberal-democrático . Nesse sentido, o referido Grupo de Trabalho propõe-se a fazer uma reflexão acerca do fazer político para além do Estado, buscando cruzar tanto seus aspectos racionais, que são mais visíveis (acontecimentos, estruturas, ideologias), quanto seus aspectos mais difíceis de caracterizar, posto que sensíveis (pulsões inconscientes, sentimentos morais, paixões coletivas). Interessa ao Grupo, portanto, trabalhos que problematizem a ação direta dos movimentos sociais vinculados ao campo já consagrado dos estudos sobre classe, mas, também dos novos campos de estudo que surgiram recentemente, a saber: sobre etnia, gênero, sexualidade etc, enfocando seus múltiplos aspectos: políticos, econômicos, sociais, educacionais e culturais.


BIBLIOGRAFIA:


COLOMBO,Eduardo, (Orgs) História do Movimento Operário Revolucionário. São Paulo: Imaginário, 2004.


GUIMARÃES,Adonile Ancelmo. Anarquismo e ação direta como estratégia ético-política: violência e persuasão na modernidade. Dissertação (Mestrado em História). UFU, Uberlândia. 2008.


HARVEY, David; MARICATO, Ermínia; DAVIS, Mike et. all. Cidades rebeldes: passe livre e manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São Paulo: Boitempo, 2013.


LUDD, Ned (org). Urgência das ruas: Black Block, Reclaim The Streets e os Dias de Ação Global. Trad. Leo Vinícius. Sem Lugar: Coletivo Sabotagem, 2005.


SEIXAS, Jacy Alves. Memoire et oubli: Anarchisme et Syndicalisme revoluttionaire au Brésil. Paris: Editions de la Maison des Sciences de l’Homme. 1992.



Resumos e ordem de apresentações do Grupo de Trabalho


Terça-feira: 09/06/15

1 – FABRÍCIO PÍNTO MONTEIRO


Pierre-Joseph Proudhon: Dialética Do Antidogmatismo


Esta comunicação possui como tema central o pensamento do “pai da anarquia”, Pierre-Joseph Proudhon. Sua meta, entretanto, não é simplesmente descrever suas ideias, suas propostas e conceitos, nem mesmo expôr detalhes de sua vida e trajetória política como uma narrativa linear na França de meados do século XIX. Em consonância com os objetivos deste Grupo de Trabalho, o pensamento e os atos de Proudhon serão problematizados tendo em vista elementos chave para a luta libertária em nossa atualidade – mais especificamente, a construção do antidogmatismo como um valor e prática social.

De uma forma simples, o entendimento do que seria a anarquia e o anarquismo quase naturalmente teria como pressuposto tal valor. A luta contra o autoritarismo, as restrições descabidas de liberdade, a exploração e desigualdade social, a cristalização e imposição de valores e formas de vivência, tudo constrói-se sob o princípio da possibilidade de questionamento e renovação.

Por outro lado, a prática militante cotidiana do anarquista – a prática humana cotidiana do anarquista, de modo mais geral – muitas vezes é acompanhada por intolerância, apego a conceitos   teóricos que lhe acorrentam a ação, eliminação de possibilidades de diálogo e harmonização porque o outro é visto como um inimigo (ou “traidor”, ou “falso” etc.), mesmo que esse outro não devesse ser considerado tão outro assim…

Problematizar essas questões sob o tema do pensamento de Proudhon, não significa a busca de receitas para nossa vida presente em um passado distante – rigorosamente falando, estamos construindo novamente aquele passado justamente ao levantar tais questões e reflexões hoje. Trata-se de observar outra época, outras relações sociais, outras experiências (que podem também não ser tão outras assim…), o que pode nos auxiliar a romper a cegueira que, imersos em nossa própria época, muitas vezes impomos a nós mesmos.



2 – JOÃO GABRIEL DA FONSECA MATEUS


Por uma vida sem catracas! A luta popular contra o aumento da tarifa do transporte em Goiânia



O ano de 2013, especificamente nos liames dos meses de abril a junho, proporcionou uma onda de manifestações em todo o Brasil. Lutas específicas e amplas apontaram para a necessidade de transformações sociais. Apesar do aspecto de ampliação que tomou as manifestações, nos limitaremos nessa apresentação a discutir as mobilizações populares que giraram em torno da questão do transporte coletivo urbano que marcaram presença nas ruas de centenas de cidades, dando enfoque para os atos ocorridos em Goiânia. Após isso, faremos uma breve exposição das concepções gerais da Frente de Luta contra o Aumento da Passagem, organização que figurou na coordenação de atos de luta sobre o transporte na capital goianiense. Assim, ressaltaremos as concepções libertárias desse movimento tais como a) autonomia política, organizativa e econômica; b) apartidarismo; c) combatividade; d) autogestão interna; e) livre associação dos indivíduos; f) ação direta; g) horizontalidade interna; h) decisões coletivas; i) revogabilidade e temporalidade das comissões; j) solidariedade entre membros.


3- VICTOR HUGO SOLIZ


Contribuição Epistemológica do Pensamento Libertário em Reclus e Kropotkin na Práxis do Ensino de Geografia


O propósito deste trabalho é problematizar a contribuição epistemológica do pensamento libertário de Reclus e Kropotkin para a práxis do ensino de geografia. Para tanto, dividirei minha apresentação em 4 partes. A primeira parte será uma retomada histórica de todos os pontos importantes para o desenvolvimento do trabalho, não apenas para contextualizar evitando confusões (principalmente em relação a Paulo Freire e aos discursos ultraliberais que se travestem de libertários), mas também para evitar anacronismos. Então para atingir tal objetivo será feita uma pesquisa bibliográfica que traga o surgimento da pedagogia libertária e suas críticas ao modelo educacional da época. Não é possível falar da pedagogia libertária sem falar das correntes libertárias que deram condições para essa pedagogia surgir, então serão resgatadas todas as visões políticas das diferentes cosmovisões que se uniriam após o congresso de haia (1872), incluindo as visões políticas de Reclus e Kropotkin. A segunda irá buscar compreender a geografia escolar de modo a não apenas entender como se dá o processo de ensino de geografia, mas o que se ensina e com qual objetivo se ensina. Essa compreensão se apoiará menos nos livros e mais nas visitas às escolas de modo a entender empiricamente como estas questões. A pesquisa bibliográfica servirá como respaldo para a busca de elementos comuns em escala nacional (já que é inviável acompanhar essas questões em todo o país). A partir desses elementos se retomará as críticas que a pedagogia libertária trouxe ao sistema de ensino que lhe era contemporâneo, feitas no primeiro capítulo, de modo a analisar empiricamente quais dessas críticas ainda são pertinentes de modo a se esboçar uma teoria de crítica ao modelo de ensino geográfico hegemônico. Na terceira parte, trago o relato de experiência prática com estudantes dentro de determinada escola em uberlândia, ele se apoiará nas ideias libertárias para a sociedade e para a pedagogia trazidas na primeira parte aliadas à crítica propositiva criada na segunda de modo a se criar uma práxis na qual se avaliará as limitações da pedagogia libertária no atual modelo escolar. Na criação dessa práxis são indispensáveis as contribuições de Reclus e Kropotkin com sua visão de que a geografia tinha que servir como ferramenta de libertação das pessoas. Para atingir tal objetivo serão escolhidas preferencialmente duas turmas nessa escola, uma do sexto ano do ensino fundamental e outra do terceiro ano do ensino médio, de modo a se averiguar como o maior tempo de exposição ao modelo escolar disciplinador afeta a práxis que busca a autonomia. Depois será feito um relato completo e detalhado de maneira próxima ao que foi feito nesse relatório de estágio em anexo.  Na última, trago uma reflexão sobre a práxis detalhada na anterior, de modo a se fazer uma proposição sobre o ensino de geografia dentro das escolas, para isso não bastará verificar suas limitações que a práxis  trazia, mas também fazer um processo de autocrítica de modo a se conseguir se expandir as possibilidades de ação dentro da escola, de modo a não apenas se buscar uma proposição que busque alimentar a autonomia e a solidariedade, mas também se fazer o deslocamento do conhecimento platônico idealizado para prática calcada na realidade.


Quarta-feira: 10/06/15


4 – VILMAR MARTINS JR.


O Movimento Revolucionário 21 de Abril: A Desventura da guerrilha. Uberlândia-MG 1966-1967.


A chamada “resistência democrática”, esboçada no Brasil após o golpe civil-militar de 1964, se constituiu como um dos principais enfoques da historiografia brasileira a respeito do regime anterior à Constituição de 1988. São poucas, entretanto, as abordagens que levam em conta eventos ocorridos em cidades interioranas de médio porte, sobretudo fora do eixo Rio São Paulo.  Nosso objetivo é apresentar algumas reflexões decorrentes de pesquisa desenvolvida para monografia no curso de graduação em História sobre o “Movimento Revolucionário 21 de Abril” ou “Guerrilha de Uberlândia”, como foi denominado por alguns veículos da imprensa, um grupo de homens no Triângulo Mineiro que se propuseram a organizar a luta armada na região.

Presos e acusados de terrorismo pelo Exército em 1967, o MR-21 constituiu-se a partir do contato com o PCB, PCdoB e, posteriormente com o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), sob a suposta liderança de Leonel Brizola, exilado no Uruguai. Apesar do grupo nunca ter executado uma ação prática de enfrentamento direto contra o regime, foram enquadrados e julgados sob a Lei de Segurança Nacional. O caso do MR-21 permite-nos uma reflexão acerca da atualidade dos embates políticos e sociais existentes no regime democrático, constituído a partir de uma transição pactuada com a ditadura e da qual ainda prevalecem algumas orientações ideológicas e normativas a respeito da caracterização dos chamados “inimigos”. Nesse sentido convém refletir, por um lado, sobre as estratégias de luta e enfrentamento político contra o Estado e, por outro lado, sobre o aparato repressivo empregado contra os movimentos sociais em função dos interesses dominantes no país.

As principais fontes utilizadas na pesquisa, além da bibliografia disponível, são entrevistas, documentos dos órgãos de informação e notícias de imprensa. Pretende-se problematizar a visão de alguns dos envolvidos no processo, como também, abordar a construção do fato sobre a existência de “guerrilheiros” no Triângulo Mineiro tanto pela imprensa, quanto pelas Forças Armadas à época.


5 – BIANCA ARANTES


MIB: Movimento Indígena no Brasil


As reuniões de vários povos indígenas ocorridas entre os anos de 1974 e 1980 (Assembleias Indígenas), que contabilizaram cerca de quinze assembleias, inicialmente organizadas e apoiadas Cimi são consideradas como o acontecimento fundador do Movimento Indígena no Brasil (MIB). Elas provocaram uma ruptura na forma de atuação dos indígenas dentro da política indigenista. Arrisca-se a dizer que foi a primeira vez que os indígenas apareceram como sujeitos políticos e conseguiram tornar pública a sua versão da história do Brasil. O MIB mostra que os indígenas vistos durante séculos como incapazes são bons e quiçá os melhores interlocutores de suas próprias culturas e os únicos genuinamente aptos a representarem seus próprios interesses. Foi após a Constituição de 1988 quando as culturas indígenas foram consideradas como parte da nação brasileira que as organizações indígenas se fortaleceram institucionalmente. E em 1989, o Movimento Indígena no Brasil ganha novo fôlego com a Convenção Nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) declarando que os povos indígenas e tribais deveriam gozar plenamente dos direitos humanos e liberdades fundamentais, sem obstáculos ou discriminações. Além de oferecer assistência jurídica aos povos indígenas e aliados, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) mantém uma página na internet e um jornal, para informar sobre a questão indígena e denunciar omissões e desserviços do Estado. O MIB como um movimento social se insere no grupo das organizações populares, que no Brasil ganharam força a partir da década de 1970, inicialmente estabelecendo relações de oposição e resistência ao Estado, visto como cerceador de direitos sociais e políticos. Com o fim do Regime Militar em 1985, as mobilizações sociais, saíram das ruas e se voltaram para os ambientes institucionalizados. Assim como as demais organizações populares, os indígenas se rearticularam interna e externamente, saíram de suas comunidades e entorno, tornando os grandes centros urbanos, principalmente a capital federal, o local da afirmação dos direitos indígenas e trazendo à política indigenista novos atores políticos, atores estes não mais indigenistas como Rondon, Ribeiro, os irmãos Villas-Bôas e etc., mas chefes e líderes indígenas como Raoni Metuktire, Megaron Txukarramãe, Mário Juruna, Ailton Krenak, entre outros. O MIB ganha ressonância nacional e internacional com ênfase na reação ao sistema vigente, na luta por direitos políticos e sociais, e pela conquista de igualdade de direitos em relação aos demais cidadãos nacionais; além de defender o direito à diferença cultural, que é peculiar à sua sobrevivência.


6 – LARISSA VIEIRA e  LEANDRA SILVÉRIO


A relação do movimento negro contemporâneo com as formas de resistência no Brasil Colônia


Relacionar movimentos de resistência negra do tempo da escravidão com os movimentos de luta negra contemporâneos. Como os quilombos e movimentos abolicionistas, que surgiram no século XIX, e cuja finalidade era de mudança política em benefício da sociedade negra.

Tratar também de outros grupos como as Irmandades que eram formadas principalmente por negros forros ou não, que por meio da fé e da religião se uniam, escravos africanos e escravos nascidos no Brasil cultuavam ritos e valores deixados pela cultura africana. Além de preservar laços de solidariedade como, por exemplo, subsidiar a compra de alforria de outros escravos. Ali era um lugar de estar entre irmãos, de assessoria  e de se encontrar culturalmente. E assim perceber que os movimentos de integração entre negros sempre existiu durante a história do país, e que a partir do século XX vão surgir vários movimentos desencadeados principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro e que vão tomar alcance nacional.

Como a imprensa negra a imprensa negra uma forma de organização escolhida entre os membros da população negra brasileira, como forma de fugir da “reprodução da ideologia racista da época”. Nos folhetins incluíam anúncios de eventos onde os negros e adeptos se encontravam e eram o centro das atenções culturais e sociais, sem qualquer chance de adentrar ali as ideais predominantes da cultura branca. Esses tipos de Jornais têm forte ligação com as associações negras desde o início do século XX. Ambas tinham o objetivo de suprir as necessidades de integrar os negros na sociedade brasileira. O Jornal auxilia as associações a ter mais visibilidade, ajuda na promoção de eventos culturais recreativos fornecidos por ela.

Já as associações se atentavam principalmente com o racismo e a discriminação vivenciado pelos negros e se preocupavam também com a educação e a cultura que na maioria das vezes eram vetadas de chegar até a comunidade negra, ou para a comunidade menos favorecida financeiramente. Por isso ali eram discutidas questões como a desigualdade racial no país, a diferença das condições de trabalho entre negros e brancos, entre outras reivindicações, e para tentar diminuir tal discriminação as associações e movimentos negros sempre investiram na educação e na leitura, fazendo com que um maior número de letrados negros pudessem fazer diferença no futuro.



Quinta-Feira: 11/06/15


7 – ADRIANO SKODA


A solidariedade como ação direta: a rede de produção política e científica dos geógrafos anarquistas


O presente trabalho busca apresentar como se configurou a rede de trabalho entre os geógrafos anarquistas, enfocando principalmente nas relações entre Élisée Reclus e  Piotr Kropotkin. Reclus em seu trabalho monumental Nouvelle Géographie Universelle (NGU), publicado entre os anos de 1876 e 1894, contou com a colaboração de diversos militantes e cientistas para o desenvolvimento de sua obra, tais como Piotr Kropotkin, León Metchnikoff, Charles Perron. Estes trabalhos realizados com o financiamento da editora Hachette, de París, França, serviu como aporte econômico aos militantes anarquistas, permitindo a estes realizar trabalhos políticos para além da dedicação da obra geográfica, como foi o caso da revista internacionalista Le Travailleur, dirigida por Reclus (autor da NGU) e Perron (cartógrafo da NGU), e que contou com a colaboração fixa de Metchnikoff, Dragomanov e Lefrançais (secretário editorial da NGU), publicada durante o período de exílio destes na Suíça nos anos de 1870. Assim, o trabalho pretende aprofundar na análise das relações de apoio mútuo entre os militantes afim de compreender como essas práticas de solidariedade permitiram uma ampliação das práticas e lutas de ação direta por parte dos anarquistas.




8 – RODRIGO ROSA DA SILVA


Educação anarquista, ciência e ação direta: a Escola Moderna de Barcelona


O presente trabalho propõe em sua análise não dissociação entre os aspectos pedagógicos da Escuela Moderna de Barcelona (1901-1906) e seu projeto político; acreditamos na íntima relação entre a produção científica e a visão política de qualquer intelectual ou pesquisador; também entendemos o aporte do racionalismo e do cientificismo à educação proposta por Ferrer como parte de uma ação política consciente. Em nossa concepção a Escuela Moderna foi sim uma escola, mas muito mais do que isso: foi também uma editora; um laboratório científico e pedagógico; um espaço de luta política e ação direta contra a igreja, o estado e o capitalismo. Francisco Ferrer pode ser tomado como um eixo central de uma complexa rede que envolveu cientistas, educadores e homens e mulheres ligados à política, ao sindicalismo revolucionário e ao anarquismo na Europa. O projeto da Escuela Moderna foi um produto coletivo, resultado da colaboração de muitas pessoas. Era assim que Kropotkin e Reclus entendiam que o pensamento evolui e que a humanidade caminha rumo ao progresso: pela soma da experiência e do trabalho de todos os homens e mulheres do passado e do presente, com vistas à construção de um novo amanhã.


9 – CLÁUDIA TOLENTINO GONÇALVES FELIPE


Circulação anarquista de saberes no pós-guerra (1945-1969)


Nesta comunicação vou tratar de alguns resultados preliminares de minha pesquisa de doutoramento, que está sendo desenvolvida na Universidade Estadual de Campinas. Em linhas gerais, busco compreender como alguns anarquistas colocaram em trânsito saberes e projetos políticos através de documentos (livros, jornais e panfletos) produzidos no pós-guerra (entre 1945 e 1969).  Neste período, os escritos anarquistas circularam a nível internacional, pois havia uma comunhão de interesses e uma articulação entre movimentos libertários de diferentes partes do mundo. Há, ao que parece, o uso de um “idioma libertário”, termo genérico que remete a conceitos, argumentos e juízos através dos quais os anarquistas enxergavam e liam o mundo à sua volta. Este idioma dependia não somente da circulação de textos, mas também de pessoas (representantes de grupos anarquistas e refugiados, em sua maioria). Por que razão esta circulação de saberes e de pessoas se acentuou e ganhou nova articulação no pós-guerra? Para sondar esta questão, trabalho com conceitos como o de solidariedade, que parece ter ganhado novo sentido quando mobilizado na crítica aos vários autoritarismos então vigentes, e o de universalismo, que foi utilizado para contrariar os nacionalismos que teriam motivado não apenas a(s) guerra(s), mas também os regimes autoritários que ganharam força na primeira metade do século XX. Além disso, pretendo compreender em que medida as tentativas de estreitamento de laços entre militantes respondia ao aparato destrutivo das guerras e analisar o lugar ocupado pelo Brasil neste cenário.


10 – THIAGO LEMOS


A emancipação das mulheres será obra das próprias mulheres? Reflexões acerca do debate entre Lucía Sánchez Saornil e Mariano Vàzquez nas páginas de Solidaridad Obrera



Nas primeiras décadas do século XX, o movimento anarquista e anarco-sindicalista espanhol constitui-se num vigoroso movimento de massas, colocando-se à frente de uma série de greves, atos, motins e insurreições, com o objetivo de preparar a classe operária para o processo revolucionário que daria fim ao capitalismo e ao Estado. Apesar de obter esta forte penetração no mundo operário, chegando a fundar sindicatos ( Confederación Nacional del Trabajo- CNT) e grupos específicos ( Federación Anarquista Ibérica – FAI) que contavam com milhões de trabalhadores e trabalhadoras, as questões de classe sobrepunham-se às questões de gênero de tal modo, que acabavam por aceitar e naturalizar a dupla  opressão, tanto de classe quanto de gênero, que as mulheres  sofriam  em relação aos homens, nos vários espaços em que estavam inseridas: casa, fábrica, sindicato e grupo específico, revelando que o machismo era algo que não se restringia  à burguesia, mas, que também encontrava-se profundamente enraizado no proletariado. Com objetivo de reverter tal situação, iniciou-se uma série de campanhas nos meios anarquistas e operários, através da publicação de jornais, revistas e folhetos que buscavam esclarecer/sensibilizar militantes e trabalhadores acerca da “questão sexual”. O ponto de culminância desta campanha deu-se no debate travado entre Lucía Sánchez Saornil e Mariano Vàzquez nas páginas do jornal barcelonês Solidaridad Obrera, em fins de 1935. Tomando como fio condutor este debate, o presente trabalho propõe-se a problematizar algumas questões, a saber: A emancipação das mulheres será obra das próprias mulheres? Os homens podem e/ou devem contribuir para a emancipação das mulheres? Enfim quais sujeitos são os protagonistas e quais são os coadjuvantes deste processo? Em linhas gerais,  estas são as perguntas que pretendo responder, ou melhor, formular ao longo desta pesquisa ainda em fase de gestação.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Mini-curso sobre anarquismo


A atualidade do anarquismo pode ser visualizada direta ou indiretamente em diversos movimentos autônomos eclodidos nos últimos anos como, por exemplo, a Primavera Árabe de 2010, o Occupy Wall Street de 2011 e as Jornadas de Junho em 2013 – tendo em vista que um dos elementos de propulsão às manifestações citadas se relaciona a uma questão debatida desde o nascimento do anarquismo no século 19: a negação da representação política ou seu esgotamento. Neste contexto, o conhecimento da filosofia anarquista nos parece importante tanto para o público geral como para os estudantes da área de humanidades em suas tentativas de compreender o mundo contemporâneo. Sendo assim, destinado às pessoas que tiveram pouco contato com o anarquismo, o objetivo deste minicurso é apresentar e discutir historicamente conceitos e concepções de pensadores que integram a filosofia anarquista. Por meio de uma exposição narrativa, propomos abordar os principais acontecimentos da história do anarquismo, bem como sua contemporaneidade.

BIBLIOGRAFIA:

ARMAND, E; BARRUÉ, J; FREITAG; G. Max Stirner e o anarquismo individualista. Seleção e tradução: Plínio Augusto Coelho. São Paulo: Imaginário, 2003.
AVELINO, N. Errico Malatesta: revolta e ética anarquista. Revista Verve. São Paulo, PUC-SP, n° 4, p. 228-264, out., 2003.
BAKUNIN, M. Estatismo e anarquia. São Paulo: Imaginário, 2003.
BAKUNIN, M. Textos anarquistas. Seleção e notas Daniel Guérin; tradução de Zilá Bernd. Porto Alegre: L&PM, 2006.
BOOKCHIN, M. Anarquismo, crítica e autocrítica. São Paulo: Hedra, 2010.
COLSON, D. A filiação de Proudhon. Revista Verve. São Paulo, PUC-SP, n° 09, p. 23-29, maio, 2006.
CUBERO, J. As ideias-força do anarquismo. Revista Verve. São Paulo, PUC-SP, n° 04, p. 265-278, outubro, 2003.
GUILLAUME, J. A Internacional: documentos e recordações. São Paulo: Imaginário, 2009.
KROPOTKIN, P. A ajuda mútua: um fator de evolução. São Sebastião: A Senhora Editora, 2009.
KROPOTKIN, P. A conquista do pão. Rio de Janeiro: Edição da Organização Simões, 1953.
KROPOTKIN, P. O princípio anarquista e outros ensaios. Tradução de Plínio Augusto Coelho. São Paulo: Hedra, 2007.
KROPOTKIN, P. Palavras de um revoltado. São Paulo: Imaginário, 2005.
MALATESTA, E. Cadernos anarquistas. Fortaleza: Organização de Resistência Libertária, 2010.
MONTEIRO, F. O niilismo social: anarquistas e terroristas no século XIX. São Paulo: Annablume, 2010.
NETTLAU, M. História da anarquia: das origens ao anarco-comunismo. São Paulo: Hedra, 2008.
PRÉPOSIET, J. História do anarquismo. Coimbra: Edições 70, 2007.
PROUDHON, P-J. A propriedade é um roubo: e outros escritos anarquistas. Seleção e notas de Daniel Guérin; tradução de Suely Bastos. Porto Alegre: L&PM, 2008.
PROUDHON, P-J. O que é a propriedade? Tradução: Marília Caeiro. 2ª edição. Lisboa: Editorial Estampa, 1975.
PROUDHON, P-J. Sobre o princípio da associação. Tradução de Martha Gambini. Revista Verve. São Paulo, PUC-SP, n° 10, p. 44-74, outubro, 2006.
RECLUS, E. A anarquia e os animais. Piracicaba: Ateneu Diego Giménez, 2010.
RECLUS, E. Geografia. Org. Manuel Correia de Andrade. São Paulo: Ática, 1985.
ROCKER, R. A ideologia do anarquismo. São Paulo: Faísca, 2005.
SAMIS, A. Os matizes do sentido – anarquismo, anarquia e a formação do vocabulário político no século XIX. Revista Verve. São Paulo: PUC-SP, n°2, p. 40-64, outubro, 2002.
SAMIS, A. Negras tormentas: o federalismo e o internacionalismo na Comuna de Paris. São Paulo: Hedra, 2011.
SEIXAS, J. A. Indivíduo, liberdade e solidariedade em Proudhon: contribuição para uma genealogia do pensamento e sensibilidade anarquistas. In: MACHADO, M.C.T.; PATRIOTA, R. (orgs.). Política, cultura e movimentos sociais: contemporaneidades historiográficas. Uberlândia, Universidade Federal de Uberlândia, 2001.
WOODCOCK, G. História das ideias e dos movimentos anarquistas – vol.1: A ideia. Porto Alegre: L&PM, 2007.
WOODCOCK, G. História das ideias e dos movimentos anarquistas – vol. 2: O movimento. Porto Alegre: L&PM, 2008.
ZERZAN, John. Futuro primitivo. Sem lugar: Sabotagem, 1999.

Cine-debate sobre Mujeres Libres




Nas primeiras décadas do século XX, o movimento anarquista e anarco-sindicalista espanhol constitui-se num vigoroso movimento de massas, colocando-se à frente de uma série de greves, atos, motins e insurreições, com o objetivo de preparar a classe operária para o processo revolucionário que daria fim ao capitalismo e ao Estado. Apesar de obter esta forte penetração no mundo operário, chegando a fundar sindicatos ( Confederación Nacional del Trabajo- CNT) e grupos específicos ( Federación Anarquista Ibérica – FAI) que contavam com milhões de trabalhadores e trabalhadoras, as questões de classe sobrepunham-se às questões de gênero de tal modo, que acabavam por aceitar e naturalizar a dupla  opressão, tanto de classe quanto de gênero, que as mulheres  sofriam  em relação aos homens, nos vários espaços em que estavam inseridas: casa, fábrica, sindicato e grupo específico, revelando que o machismo era algo que não se restringia  à burguesia, mas, que também encontrava-se profundamente enraizado no proletariado. Com o objetivo de reverter tal situação, grupos femininos que surgiram  em Madrid ( encabeçados por Lucía Sánchez Saornil, Amparo Poch y Gáscon e Mercedes Comaposada )  e em Barcelona ( encabeçados por Aurea Cuadrado, Pilar Grangel e Soledad Estorach)   em torno de 1934 e 1935, começam a discutir a necessidade da criação de uma organização feita por e para mulheres, com o objetivo de problematizar a especificidade da questão feminina, que não poderia mais ser reduzida à questão social, nos meios anarquistas. Como resultado direto deste acúmulo de experiências, em 1936 surgirá primeiramente a revista ( maio) e depois a organização ( agosto), Mujeres Libres, que desempenhará um papel fulcral durante a guerra civil e a revolução social desencadeada naquele país a partir de 19 de julho do mesmo ano. A partir da exibição do documentário “Indomables: uma historia de Mujeres Libres”, o presente cine-debate tem como objetivo apresentar e discutir a “dupla luta” levada a cabo por esta organização, que conseguiu mobilizar mais de vinte mil mulheres durante seus quase três anos de existência, com o objetivo de destruir tanto o capitalismo, quanto o machismo.

Referencias:

Ackelsberg, Martha . Free Women of Spain: Anarchism and the Struggle for the Emancipation of Women, AK Press:Oakland.2005.

FELIPE, Juan. Indomables: uma historia de Mujeres Libres. Zerikusia:Valencia,2012.

NASH,Mary. Rojas. Las mujeres republicanas en la Guerra Civil, Taurus, Madrid, 1999.

RAGO, Margareth.;BIAJOLI, Maria Clara Pivato.Mujeres Libres da Espanha: documentos da Revolução Espanhola. Rio de Janeiro: Achiamé, 2008.