domingo, 26 de agosto de 2012

EXISTE POLÍTICA ALÉM DO VOTO!



Já percebeu que votar não resolve os verdadeiros problemas da população? Vem governo, vai governo e a situação permanece igual. Nas eleições, os políticos prometem soluções para todos problemas e pedem nossos votos, mas quando são eleitos esquecem daqueles que o elegeram.
Quantas decisões são tomadas sem a nossa opinião? Mudam as leis, constroem usinas e estádios de futebol, aumentam a passagem do transporte público, gastam milhões com seus salários… Mas nada de mais hospitais, escolas e creches. Não fazem nada em relação às enchentes. A polícia continua oprimindo o povo todos os dias.
Os governantes dizem que são ações para o nosso “bem” e que é o “melhor para a gente”. Mas como podem saber o que queremos se não nos consultam?
Eles não querem saber o que precisamos, queremos e desejamos.
Isso tudo não é novidade para maioria de nós. Enxergar que as coisas não vão bem já é um começo, mas não basta. Devemos ir além! Temos que tomar de volta nossas vidas em nossas próprias mãos!!!
Ninguém mais aguenta essa política que nos impõem. A democracia representativa, esse sistema baseado nas eleições de políticos para cargos de governo, é o que mantém as coisas como estão. O poder está concentrado nas mãos de uma minoria que governa em favor dos ricos e poderosos, ignorando as necessidades e os desejos do povo.
O crescimento econômico é uma farsa, pois somente os grandes empresários se beneficiam com ele. O povo, como sempre, recebe só as migalhas que caem dos bolsos cheios dos donos do capital que são favorecidos por aqueles que detém o poder. E nesse sistema capitalista sempre quando alguém ganha, muitos outros perdem…
É por isso que nos colocamos contra esse sistema político-econômico. Não aceitaremos mais que os políticos decidam por nós! Vamos nos organizar e construir novas formas de viver em sociedade.
Existe política além do voto! Votar de quatro em quatro anos não é fazer política. Existe um outro mundo a ser descoberto. Ele não está tão distante quanto imaginamos. Para vê-lo, basta apenas pararmos de aceitar o que nos impõem e passar a agir para alcançar um horizonte que está além do que estamos acostumados a enxergar.
Para isso propomos fazer política todos os dias, coletivamente, e que as decisões e ações partam de cada um e de todos. Uma política construída diretamente pelas pessoas. Que elas mesmas tenham a possibilidade concreta de defender seus interesses e decidirem sobre o rumo das suas vidas, associando-se com outras pessoas que tenham interesses e vontades em comum. Que as decisões sejam tomadas com todos os indivíduos em pé de igualdade, sem nenhum indivíduo com mais poder do que outro, baseados em uma relação de cooperação e solidariedade.
Propomos, ao invés da democracia representativa e das eleições, uma democracia direta em que as pessoas se organizem para decidir sobre os assuntos nos quais estejam envolvidas, seja no seu bairro, na sua escola, no seu local de trabalho, enfim, em qualquer espaço de convivência. Queremos uma política que seja feita no dia-a-dia, que esteja integrada às nossas vidas. Que não tenhamos mais que escolher um governante. Uma política na qual não precisemos mais votar e nem eleger ninguém! Que sejamos nós mesmos a decidir e agir na organização da sociedade.
Essa proposta política é praticada em diversas partes do mundo e por muitos grupos diferentes. Trabalhadores se reúnem para produzir bens ou prestar serviços sem necessidade de um patrão, em sistema de autogestão. Diferentes grupos de pessoas se organizam em associações de bairros, mantém centros culturais, participam de movimentos sociais, culturais e políticos, assim como de manifestações, protestos, ocupações e ações para denunciar as injustiças cometidas pelo Estado e pelos capitalistas. São pessoas que pela ação direta, sem representantes e sem chefes, decidem e atuam na política e na economia de nossa sociedade. Esses grupos se comunicam e se coordenam, combinando ações, criando laços de apoio e ações conjuntas, mas cada um com sua autonomia, organizando-se sem hierarquias e sem um grupo dirigente ou governante, associando-se num sistema que chamamos de federalismo.
Acreditamos que só assim construiremos uma sociedade livre, justa e igualitária.
Façamos nós mesmos a nossa história! Existe política além do voto!
http://www.alemdovoto.org/

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O caçador do tesouro perdido da tradição revolucionária: Rudolf Rocker, os conselhos operários e a Revolução Russa*




Rocker, Rudolf. Os sovietes traídos pelos bolcheviques. São Paulo: Hedra, 2007

Os conselhos são órgãos revolucionários que surgem espontaneamente entre as classes trabalhadoras em períodos onde a ruptura com a sociedade capitalista e a construção da sociedade socialista se apresentam como possibilidade real para os proletários e camponeses presentes em tais momentos de convulsão social. Os conselhos tem por objetivo superar a estrutura econômica e política da sociedade burguesa, que se baseia na propriedade privada e na democracia parlamentar.
Os conselhos visam, desse modo, erigir um tipo de administração onde, uma vez socializados os meios de produção, os trabalhadores se organizam de baixo para cima a partir de pequenas unidades, tais como as fábricas, escolas, comunidades etc.. para gerir diretamente os assuntos concernentes a sua existência coletiva. Depois de interligadas, tais unidades substituem o Estado liberal de direito na tarefa de articular as diferentes partes que compõem a totalidade do corpus social.
Assim sendo, podemos perceber que os conselhos operários podem assumir conteúdos distintos, que são, por sua vez, dependentes do contexto histórico em que estes emergem e se consolidam. Foi desse modo que procedeu com a Comuna de Paris em 1871, os sovietes na Revolução Russa em 1905 e após, em 1917, os rattes na Revolução Alemã em 1919, as coletividades na Guerra Civil Espanhola em 1936, os caracoles zapatistas no México em 1993 e, mais recentemente, as asambleas na Argentina em 2001.
Usualmente, o conselhismo é tomado como uma expressão filosófica típica do marxismo, mais especificamente do marxismo heterodoxo. Isso fica bastante evidente quando nos deparamos com o trabalho de autores do quilate de Rosa Luxemburg, Anton Panekoek, Paul Mattik, Hermam Gorter entre outros. Não obstante, a reivindicação dessa herança não é feita apenas pelos marxistas. Como iremos ver mais adiante, outras correntes do pensamento socialista também exigem o seu lugar junto aos demais executantes testamentários do legado deixado por aquilo que seria, segundo a feliz expressão de Hannah Arendt, o “tesouro perdido da tradição revolucionária”.
Dentre essas outras correntes do pensamento socialista estão, naturalmente, os anarquistas, cujas reflexões acerca dos conselhos são anteriores e, em certos aspectos, mais profundas do aquelas realizadas pelos seguidores de Marx. Nesse sentido, não foi por acaso que o anarquista alemão Rudolf  Rocker se esforçou, a maneira de um caçador, para descobrir e decifrar a obscura, porém viva, presença desse tesouro perdido no interior de uma tradição revolucionária que anunciava o fim da desgraça representada pela exploração econômica e pela dominação política. Esforço este, em grande parte, organizado e sistematizado no livro “Os Sovietes traídos pelos Bolcheviques”, obra em que o autor levanta e discute questões significativas para um correto entendimento acerca da teoria e prática conselhista.
Nessa direção, a presente resenha do livro de Rocker tem o objetivo de, por um lado, refletir sobre a origem teórica dos conselhos, demonstrando a sua estreita proximidade com a tendência anarquista que se desenvolve no seio da Primeira Internacional e, por outro, analisar o desenvolvimento prático dos conselhos durante a Revolução Russa de 1917, sublinhando a sua eventual incompatibilidade com ditadura do proletariado implantada pelo partido bolchevique após a tomada do poder por Lênin e seus seguidores.
Ao traçar a genealogia da idéia de conselhos, Rocker remonta até a longínqua década de 60 do século XIX, período onde aparece, como já sabemos, a Associação Internacional dos Trabalhadores. Para o nosso autor, foi com o surgimento e transformação da Internacional que o movimento operário europeu começou a se preparar para “despojar os últimos restos do radicalismo burguês e voar com as suas próprias asas” (p.78).
Portanto, na medida em que a Internacional tomava consciência de si mesma, a idéia dos conselhos operários ia ganhando contornos cada vez mais nítidos entre seus aderentes. De congresso em congresso, essa idéia aparecia aqui e acolá. Mas, sem sombra de dúvidas, ela só foi precisada e desenvolvida coma clareza que lhe era necessária no Congresso da Basiléia, no ano de 1869. De acordo com Rocker, foi no congresso em questão que o anarquista belga Eugins Hins teria discutido pela primeira vez as tarefas presentes e futuras das organizações sindicais no que concerne a realização do socialismo.
Em sua moção, Hins sustentava que da organização surgida para a defesa do trabalho contra o capital, nascerá “a administração política das comunas”, onde “os conselhos das organizações de ofícios e indústrias substituirão o governo atual e a representação do trabalho substituirá de uma vez por todas os velhos sistemas políticos do passado”. (p.80)
Segundo Rocker, tal premissa teria surgido da compreensão de que existe uma íntima relação entre os fatores econômicos e políticos que compõem a vida social. Como acreditava que, com a vinda do socialismo, a era da exploração do homem pelo homem teria findado, a dominação do homem pelo homem também deveria sê-lo.
Logo, a materialização da sociedade socialista demandaria não apenas de uma nova forma de expressão econômica, mas, também e, sobretudo, de uma nova forma de expressão política, pois, ela só seria realizável no âmbito desta última. “Essa nova forma”, pensava ele, “poderia ser encontrada no sistema de conselhos”(p.80).
Como estavam cônscios de que a sua tarefa era se apoderar dos meios de produção econômica, acreditavam não ter necessidade de organizar um partido político e tomar o poder do Estado, mesmo que este último tivesse o nome de proletário. Para Rocker, o adágio sainti-simoniano de que o governo dos homens deveria dar lugar à administração das coisas era a pedra de toque identitária da filosofia dos internacionalistas.
Todavia, apenas as seções espanhola, italiana e francesa, que se encontravam sob a influência das idéias de Bakunin é que aderiram e, portanto, defenderam a proposta conselhista. Em virtude disso, tiveram, irrevogavelmente, de se bater contra Marx, Engels e os demais representantes do Conselho Geral, que ficava situado em Londres. Ao contrário dos anarquistas, os marxistas acreditavam que era a ditadura do proletariado, sob a direção do partido de vanguarda, a quem caberia a incumbência de reconstituir a sociedade num sentido socialista.
Segundo o anarquista alemão, Marx teria herdado essa teoria dos jacobinos e outros intelectuais vinculados à burguesia radical. A título de exemplo, Rocker cita o livro “O Manifesto Comunista” escrito por Marx, em pareceria com Engels, onde a idéia de ditadura do proletariado parece como sinônimo da tomada do poder do Estado por um partido político, que existiria até que os conflitos entre as classes desaparecessem completamente.
Como o despotismo do método corresponde ao despotismo da ação, não demorou muito para Marx conseguisse expulsar os anarquistas da Internacional. Foi justamente o que aconteceu no Congresso de Haia em 1872, onde o Marx conseguiu, através da manipulação dos votos, obter a maioria necessária para expulsar Bakunin, Guilhaume e outros anarquistas, neutralizando desse modo a influência dos mesmos sobre o movimento operário europeu. Após o fim da Internacional, que depois de transferida para Nova York perdeu qualquer relevância política, e a destruição da Comuna de Paris, fato ocorrido no ano anterior, o conselhismo foi completamente olvidado.
Somente em algumas décadas posteriores, com o surgimento do sindicalismo revolucionário francês, que, aliás, estava profundamente impregnado pelo anarquismo, que tal situação haveria de se alterar. Como indica Rocker, a atividade dos anarquistas Fernand Pelloutier, Emile Pouget e George Yvetot junto ao movimento operário no período de 1900 a 1907 assumiu uma importância fulcral para a retomada e reatualização da teoria e prática conselhista.
Resguardadas as devidas diferenças históricas, o nosso autor aduz que foi essa mesma idéia que serviu de inspiração para os operários e camponeses russos nos primórdios da Revolução de 1917, até que ela fosse totalmente subordinada e substituída pela ditadura do proletariado.
Refletindo sobre as causas que levaram a experiência socialista na Rússia ao seu malogro, Rocker sustenta que para além do pouco desenvolvimento industrial, isolamento frente às outras nações capitalistas e, somando-se a isso, avanço da reação burguesa, existe um outro fator que, a despeito da sua profunda importância, fora mencionado apenas superficialmente nas análises até então promovidas: a união entre os conselhos e a ditadura.
De acordo com o anarquista, esse casamento, já destinado ao divórcio, não podia “engendrar outra coisa senão a desesperadora monstruosidade que é a comissariocracia bolchevique”. Para Rocker não podia ser de outro modo, pois o sistema dos conselhos não suporta qualquer ditadura. “Nele se encarnam a vontade da base, a energia criadora dum povo, enquanto na ditadura reinam a coação de cima e a cega submissão aos esquemas de espírito de um diktat” (p.77).
Consistente com o que havia colocado Kropotkin em sua “Carta aos Trabalhadores do Ocidente”, Rocker acredita que na Rússia os socialistas estavam “aprendendo como não se deve implantar o comunismo”. Assim como o mestre, o pupilo inferia que a teoria de Lênin a respeito da necessidade de um regime ditatorial no período de transição até o desaparecimento da sociedade de classes lhe parecia assaz falsa. Pois, embora a ditadura pudesse destruir uma sociedade , jamais poderia ser útil para criar uma, algo que só os conselhos, com seu aspecto construtivo, poderiam fazer.
E antevendo as críticas que poderia receber, Rocker afirma que a hipótese segundo a qual a ditadura do proletariado constitui um caso a parte, por se tratar da ditadura de uma classe, não merece nem sequer refutação, pois não passa de um sofisma para enganar tolos. “É inconcebível”, afirmava ele, “falar em ditadura de uma classe, visto que se trata sempre, no final das contas, de um certo partido, que se pretende falar em nome da classe”(p.90).
Para além da substituição dos conselhos livres por órgãos estatais, a ditadura bolchevique deu início a uma processo de perseguição a todos os revolucionários não comunistas, que ironicamente eram, em sua quase totalidade, defensores do sistema de conselhos. Se antes, estes eram a glória da revolução, agora não passavam de traidores a serviço do capitalismo internacional.
“Dessa suficiência autoritária de um pequeno grupo que busca encobrir sua sede de poder” (p.46) resultou a destruição da comuna autogestionária de Makhno na Ucrânia em 1918; a repressão aos marinheiros de Kronsdat em 1921 e o encarceramento e assassínio dos anarquistas, sindicalistas, socialistas revolucionários ou de qualquer outra corrente da esquerda que ousasse reivindicar o fim da comissariocracia do partido e uma maior atuação dos conselhos na construção do socialismo.
Após o findar do período do “Comunismo de Guerra”, os conselhos já se encontravam totalmente destituídos da sua autonomia e completamente privados dos seus autênticos defensores. Segundo Rocker, esse foi o primeiro passo para que a guinada da política de Lênin rumo a direita se realizasse por inteiro. “Pois, com a implementação da Nova Economia Política surgiu à crença de que seria preciso “fazer com que o capitalismo fosse dirigido nas águas do capitalismo de Estado”, já que “o socialismo só poderia se desenvolver a partir deste” (p.454).
Comparando a Revolução Francesa com a Revolução Russa, Rocker lembra com propriedade que a política de Robespierre conduziu a França a ditadura militar de Luis Napoleão Bonaparte. “Mas” questiona Rocker “ a que abismo a política de Lênin e seus camaradas conduzirá a Rússia?” (p.39).
Embora o nosso autor não pudesse ainda responder essa pergunta, haja vista que o seu livro havia sido escrito no calor no dos acontecimentos, ele pressentia com uma intuição quase certeira que esse abismo não poderia ser outro senão o totalitarismo estalinista.
Para concluir essa resenha gostaria de me ater a dois aspectos do livro de Rocker: o historiográfico e o político.
O primeiro está relacionado ao fato que graças a livros como o de Rocker, a historiografia pôde ir alé m da interpretação dada pelos partidos políticos que se pretendiam os donos da verdade científica e, com isso, mostrar o outro lado da Revolução Russa: a atuação dos conselhos operários. O segundo se vincula a constação de que assim como aconteceu na Revolução Russa, hoje em dia a esperança de mudar o mundo não pode vir de cima, por meio do Estado, até mesmo por que esse se mostra incapaz de fazê-lo. Essa esperança deve vir de baixo, através das próprias organizações que os movimentos sociais contemporâneos têm demonstrado a capacidade de criar.
Sob este duplo aspecto, o livro “Os Sovietes Traídos pelos Bolcheviques” permanece ainda extremamente atual.

Notas
*Resenha originalmente publicada em Eidos info-zine, Patos de Minas, nº22, Jan, 2010. Disponível em:http://wwweidosinfozine.blogspot.com/2010/01/eidos-info-zine-22_25.html  

Thiago Lemos Silva é mestre em História pela UFU ( Universidade Federal de Uberlândia) e membro do Coletivo Mundo Ácrata.

A Outra Campanha- Belo Horizonte/Minas Gerais


terça-feira, 21 de agosto de 2012

“No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho”: a crônica da luta de um psicólogo ambiental pela acessibilidade urbana em Patos de Minas



        A cidade não pára! A cidade está em constante processo de desenvolvimento. Afinal de contas, somos até mesmo conhecidos nacionalmente como a capital do milho e com isso atraímos todos os anos milhares de turistas para a nossa amada Patos de Minas em sua festa mais esperada, a Fenamilho. Somos também conhecidos pela educação de nossa cidade, sim pela educação. Temos diversos cursos de graduação e técnicos dentro do âmbito privado e público. A cidade conta ainda com indústrias e micro- empreendimentos que influenciam e impulsionam a economia. Em algumas praças, cuidadosamente, arborizadas, inclusive, há a existência de aparelhos de fazer ginástica a fim de que a população possa cuidar da sua saúde. Temos até mesmo uma rede de TV local, onde se transmite notícias jornalísticas, programas de entretenimento e outras variedades. Com tudo isso, não seria nenhum absurdo aparecermos em cartões postais como “Patos-Paris”, a cidade luz, a cidade harmônica, a cidade em que todos vivem felizes.
Bom, se você leu estas poucas linhas e não ficou nenhum pouco indignado ou não sentiu certo grau de estranhamento é porque, então, você definitivamente não conhece a realidade de Patos de Minas, ou quem sabe conhece apenas a realidade que mais lhe convém. Falo isso porque há tempos atrás fui convidado por uma empresa que avaliava o grau de satisfação dos moradores em relação ao transporte coletivo da referida cidade. Assim, comecei a perambular pela cidade a fim de observar crianças, jovens, adultos, idosos, enfim as mais diversas categorias através do principal meio de transporte que lhes são oferecidos: o ônibus.
Após observar, o próximo passo foi o de selecionar, aleatoriamente, cerca de 100 pessoas para tomar conhecimento do grau de satisfação quanto a este meio de transporte. Resultado: grande parte dos entrevistados estavam consideravelmente satisfeitos com o sistema, ah já ia me esquecendo... havia apenas um requisito que não agradava o público: o preço da passagem, tido como exagerado demais.
Então, estava tudo maravilhosamente certo. Eu já poderia concluir as minhas observações e entrevistas e o próximo passo seria colocar tudo no papel e entregar para quem me contratou e voltar para casa me sentindo um bocado feliz com mais um trabalho realizado, afinal de contas eu acabara de me formar em psicologia e já tinha conseguido este trabalho. Pronto, só faltava eu voltar para uma cidadezinha próxima à Patos, onde moro com minha família. Tão simples assim. Mas, como dizia o poeta Carlos Drummond de Andrade: no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho... E o pior é que tinha mesmo. Afinal de contas a vida não pode ser assim tão cor de rosa. Foi que de repente eu tropiquei, cai e rolei pelo chão. Olhos cerrados e que aos poucos foram sendo abertos, até me deparar com outra realidade, até então conhecida por mim, mas nunca que afetasse de maneira tão forte a minha subjetividade.
Estava certo, que quando eu estava observando os ônibus  eu sempre via uma ou duas, quem sabe três ou quatro pessoas que faziam uso de cadeira de rodas pelas ruas e avenidas da cidade. Nunca pegavam coletivo, mas, incrível, essa questão não me tocou e se tocou talvez tenha passado por mim despercebida em demasia. Claro, essas pessoas não usavam os coletivos, simplesmente, porque os mesmos não eram acessíveis. Não possuíam rampas ou elevadores ou qualquer dispositivo que pudesse permitir com que cada um circulasse, livremente, pelos quatro cantos da cidade.
O pior de tudo é que, eu enquanto psicólogo, não tinha tido sensibilidade o suficiente para me dar conta de que o ambiente é um espaço produtor de desenvolvimento psicológico, emocional, pessoal, profissional e comportamental. Somente depois que este ambiente passou a interferir em minha subjetividade, uma vez que tive que passar a fazer uso de cadeira de rodas, depois de ter fraturado alguns cês da coluna vertebral, é que pude perceber o quão ineficiente era o principal meio de transporte de Patos de Minas. Meio abalado com tudo isso e me sentindo um péssimo profissional, talvez porque nunca fui atento às questões sociais, afinal de contas, sempre me interessei pela área estritamente clínica e individual, fiquei recluso por algum tempo.
Passaram-se dias, meses que se arrastaram em anos e foi, então, que eu decidi fazer um curso em psicologia ambiental, a fim de ter um bocado de conhecimento para de alguma forma poder intervir na realidade que, há alguns anos me passou tão despercebida. Após ter concluído o curso fui a procura da mesma empresa de ônibus da qual eu já havia trabalhado há algum tempo, como vocês puderam notar no decorrer destas linhas. Na verdade, eu gostaria de mostrar para esta empresa um projeto que desse acessibilidade aquelas pessoas que fizessem uso de cadeira de rodas, fosse de modo temporário ou permanente (como se tornou o meu caso). A primeira resposta eu já até poderia ouvir em meus sonhos: não, acreditamos que isso no momento não tem relevância. Foi bem assim que aconteceu. Então, eu pensei: e se eu entrasse em contato com a comunidade, com as pessoas que fazem uso de cadeira de rodas, enfim com todos aqueles que estiverem interessados em construir uma realidade mais justa, digna e humana de fato. Bem, talvez seja possível. Ainda havia esperança.
Retornei a Patos de Minas e comecei a via cruzes. Via cruzes porque comecei a me deparar com o pior. Sim, o pior. Na medida em que comecei a circular pela cidade, notei que a mesma não possuía infraestrutura alguma para que uma pessoa com cadeira de rodas pudesse se locomover como um cidadão. Os passeios repletos de buracos, os prédios públicos e privados possuíam degraus que mais me pareciam a Muralha da China (um pouco de exagero, às vezes até que faz bem), para entrar nos coletivos eu tinha que contar com a ajuda de umas três... Não... quatro pessoas.
A situação não poderia continuar como estava. Comecei a escrever um projeto que falava da importância de reestruturar o espaço físico das calçadas, dos prédios e coletivos. Mas, não bastava apenas escrever este projeto era essencial, acima de tudo buscar apoio junto com a comunidade e também das pessoas que faziam uso de cadeira de rodas. Conversei com algumas pessoas engajadas com a política comunitária em seus bairros, com os sindicatos dos lojistas, com a associação de deficientes de Patos de Minas (mais conhecida como ADEFEPAM), fui em algumas faculdades e universidades com o intuito de falar sobre o assunto com o público estudantil. Paulatinamente, nos transformamos de gatos pingados a uma infestação de gente sedenta por direitos humanos que até então haviam sido esquecidos. Mobilizávamo-nos e saiamos pela cidade em pequenos motins, conversando com as pessoas, entregando folhetins explicativos. Não demorou muito e eu estava discursando na imprensa local, as redes sociais também passaram a apoiar a nossa causa.
De tanto tentar, de tanto nos mobilizarmos chegamos até a prefeitura e ao dono da empresa de ônibus local. Depois de horas e dias de conversa conseguimos mostrar o nosso projeto que consistia em adaptar calçadas, prédios e é claro os coletivos para que qualquer ser humano, dentro de sua subjetividade, pudesse se locomover pela Patos-Paris.
O resultado de tudo isso não foi muito animador, todavia, representou o inicio de uma pequena história que pode ter continuidade se as pessoas começarem a agir de forma mais politizada. Como é de se esperar, as principais calçadas foram adaptadas, sim, as principais, pois o que importa é o que será visto e mostrado pela mídia. Alguns comerciantes aderiram ao nosso projeto, outros não. Comece a andar por Patos de Minas e você logo irá perceber do que eu estou falando. Os coletivos? Ah, sim, estava faltando eu falar deles. Alguns foram adaptados, de modo que se eu quiser pegar um ônibus para ir até a rodoviária para voltar para minha cidadezinha, tenho que esperar, aproximadamente, uma hora, ou quem sabe contar com a sorte para que um coletivo com acessibilidade passe até o ponto onde eu esteja. Isso porque em quatro rotas há apenas um coletivo adaptado.
Como diria, Theodor Adorno, citado por Antônio Ozaí em seu instigante "Educar contra a barbárie", temos que parar de banalizar e naturalizar problemas que são de ordem social e sair de nossos mundinhos acadêmicos. Isso, talvez seja o primeiro passo para conhecermos a realidade que nos circunda mais de perto e, assim, tentar transformá-la.Portanto, como educadores, (ou psicólogos) temos responsabilidades políticas e ao invés de nos perdemos em discussões intermináveis e estéreis; de nos afogarmos em nossa própria vaidade; de gastarmos nosso precioso tempo na mesquinhez do emaranhado burocrático e na luta pelo poder de controlar os meios de prejudicar o outro; de nos desgastarmos em picuinhas e academicismos; eduquemos no sentido da auto-reflexão crítica e nos dediquemos à tarefa de esclarecer, para que se produza um clima intelectual, cultural e social que não permita a repetição da barbárie. O primeiro passo é repensarmos nossas práticas como educadores e nos indignarmos com tudo que nos lembre isso …




Fernanda Caroline de Melo Rodrigues é graduada em História pelo Unipam (Centro Universitário de Patos de Minas) e  graduanda em Psicologia pela mesma instituição.


terça-feira, 14 de agosto de 2012

VIII Congresso Mineiro de Formação de Professores para a Educação Básica.

Centro Universitário de Patos de Minas-08 a 11 de novembro

Programação

8/11 (segunda-feira)

19h: Cerimonial de abertura

19h30min: Apresentação musical

20h30min: Conferência de abertura: “Ensino-aprendizagem e Avaliação”, Prof. Dr. Celso Vasconcellos (Doutor em Educação pela USP; responsável pelo Libertad – Centro de Pesquisa, Formação e Assessoria Pedagógica).

Local: Salão Nobre do Colégio Marista

9/11 (terça-feira)

19h: Mesas-redondas

Mesa-redonda 1: “Politicas de avaliação da Educação Básica: limites e possibilidades para a atuação docente”

Prof.ª Me. Elisângela Teixeira Gomes Dias (Doutoranda pela UnB. Professora da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal).

Prof.ª Me. Ana Paula de Matos Oliveira (Mestre em Educação pela UnB. Técnica em assuntos Educacionais no INEP. Orientadora Educacional da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal).

Prof.ª Me. Maria da Penha Vieira Marçal (UNIPAM, Doutoranda em Geografia pela UFU).

Mediadora: Prof.ª Maria Marta do Couto Pereira Rodrigues (UNIPAM, Doutoranda em Educação pela UnB).

Local: Auditório da Biblioteca UNIPAM

Mesa-redonda 2: “Ciência e Aprendizagem na Educação Básica”

Prof. Dr. Sérgio Pereira da Silva (UFG. Doutor em Educação pela PUC-SP).

Prof.ª Cátia Aparecida Silveira Caixeta (Colégio Nossa Senhora das Graças)
Mediadora: Prof.ª Elisa Aparecida Ferreira Guedes Duarte (UNIPAM, Mestre em Educação pela UFU).

Local: Salão de Júri do UNIPAM, Bloco

21h: Intervalo, com lançamento de livros, e café de confraternização.
Local: Saguão do 1º piso do Bloco M

21h30min: Apresentação de pôsteres

Local: Saguão do 1º piso do Bloco M

10/11 (quarta-feira)

19h:Apresentação de comunicações orais
Local: Salas de aula do Bloco M UNIPAM

21h: Oficinas

11/11 (quinta-feira)

19h: Minicursos

Relação de oficinas

1.Práticas de Genética Prof.ª Priscila Capelari Orsolim (UNIPAM/UFU); Prof.ª Rosiane Gomes (UNIPAM/UFU); Prof.ª Nayane Moreira Machado (UNIPAM/UFU); Prof. Jeyson Césary Lopes (UNIPAM/UFU)

2. Práticas de BotânicaProf.ª Me. Norma Aparecida Borges Bitar (UNIPAM); Prof.ª Walkíria Fernanda Teixeira (UNIPAM/UFU); Prof.ª Janaína Oliveira da Silva (Advice)

3. Estratégias didáticas para o trabalho com produção de textos
Prof.ª Me. Elisângela Teixeira Gomes Dias (Doutoranda em Educação pela UnB; Professora da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal)

4. Elaboração de provas nota 10: sugestões práticas para os anos iniciais
Prof.ª Me. Elizete Maria da Silva Moreira (UNIPAM); Ivani Aparecida da Silva Soares (supervisora SEMEC/ Lagoa Formosa)

5. Ler a paisagem para entender o mundo: uma metodologia de ensino para as aulas de Geografia Prof. Me. Leonardo Moreira Ulhôa (Doutorando em Geografia pela UFU, e Professor de Geografia na Faculdade Católica de Uberlândia).

6. Trabalhando os descritores (SAEB/SIMAVE) de Língua Portuguesa
Prof.ª Dr.ª Leandra Batista Antunes (UFOP)

7. Princípios da Tecnologia Escutatória: a arte como contribuição ao desenvolvimento humano Grupo EmCantar (Uberlândia)

8. Prática de conhecimentos linguísticos para o Ensino Fundamental I: um trabalho possível e necessário Prof.ª Dr.ª Sueli Maria Coelho (UFMG, Doutora em Estudos Linguísticos pela UFMG)

9. Novas tecnologias aplicadas às Ciências Biológicas Prof. Me. Flávio de Paula Soares Carvalho (UNIPAM, Mestre em Educação em Ciências e Matemática)

10. Conservação de alimentos Prof. Bruno Teixeira Anderle (Prefeitura Municipal de Patos de Minas/Escola Advice)

11. Para além da aparência: tessituras entre moda e arte
Prof.ª Cristina Matos Silva (UNIPAM, Mestranda em Estudos de Linguagens pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais)

Relação de minicursos

1. TICs na Educação: interatividade e interação em projetos multimídia
Prof.ª Dr.ª Suely Aparecida Gomes Moreira (UFU, Doutora em Geografia pela UNESP)

2. Desafios Atuais na Gestão da Carreira Docente: desenvolvimento de competências e busca de resultados Prof. Flávio Daniel Borges de Morais (Mestrando em Administração de Empresas – Professor UNIPAC-Vazante/MG e UNICERP-Patrocínio/MG)

3. Atividades experimentais de Ciências e Biologia Prof.ª Bethânia Cristhine de Araújo (UNIPAM, Mestre em Genética e Bioquímica pela UFU); Prof.ª Nívia Maria Borges Pereira (UNIPAM, Mestre em Educação: Magistério Superior pela UNITRI)

4. Ensino de Leitura por meio dos descritores (SAEB/SIMAVE) de Língua Portuguesa Prof.ª Dr.ª Leandra Batista Antunes (UFOP)

5. Para além do ensino de gramática: a prática de análise e reflexão linguísticas Prof.ª Dr.ª Sueli Maria Coelho (UFMG, Doutora em Estudos Linguísticos pela UFMG)

6. A Física nas Ciências Biológicas Prof.ª Adriana Nogueira Alves (Colégio Equipe de Patos de Minas)

7. A Geografia como ciência e como disciplina no século XXI
Prof. Luís Geraldo Xavier (Colégio Nossa Senhora das Graças e Colégio COC Da Vinci)

8. Comunidades negras e a Lei 10.639: caminhos e possibilidades para a cidadania Prof. Dr. Paulo Sérgio Moreira da Silva (UNIPAM, Doutor em História pela UFU).

9. Navegar é preciso, narrar também é preciso Prof.ª Dr.ª Maria Ivonete Santos Silva (UFU)

10. O mundo das ideias do século XIX Prof. Me. Thiago Lemos Silva (Mestre em História pela UFU e membro do Coletivo Mundo Ácrata).

11. Gênero textual e ensino: entrelaços Prof. Me. Geovane Fernandes Caixeta (UNIPAM, Doutorando em Estudos Linguísticos pela UFMG) e Elizene Sebastiana de Oliveira Nunes (UNIPAM, Mestranda em Estudos Linguísticos pela UFMG)

12. Educação Ambiental, Ética e Direito dos animais: história, legislação e perspectivas de estudos Prof. Me. Roberto Carlos dos Santos (UNIPAM) e Milton Elder Lopes Menezes (4º Período de Engenharia Ambiental, UNIPAM).

13. Matemática e Artes Polo Rede Arte UFU/Patos de Minas.

14. Intervenções Pedagógicas Para a Aquisição de Habilidades na Leitura Prof.ª Dirlene Aparecida  Resende (SEMED/ Patos de Minas), Prof.ª Maria de Lourdes Vinhal (SEMED/ E.E. Marcolino de Barros).

15. A dança escolar: abordagem pedagógica na educação infantil e no ensino fundamental Prof.ª Célia Bernardes (Mestre em Promoção de Saúde pela UNIFRAN), e Prof.ª Ana Flávia Andalécio Couto da Silva (Especialista em Informática em Saúde pela UNIFESP, e em Atividade Física na Promoção da Saúde pelo UNIPAM).

16. Teoria, fundamentos e prática do desenho artístico Junice Pereira (artista plástica, com especialização em Artes pelas Faculdades Integradas de Jacarepaguá)


sábado, 4 de agosto de 2012


O transporte coletivo e as eleições para prefeito em patos de minas ou porque nossas urgências não podem caber nas urnas


        Como já escrevi  em outra ocasião[1], o preço da tarifa cobrada pela Pássaro Branco, empresa que granjeia o transporte coletivo em Patos de Minas, sempre foi uma grande preocupação para a parte da população que faz uso do mesmo. E não é para menos que deixem de se preocupar, pois, atualmente o preço cobrado pela passagem é de dois reais, valor que quando somado ao fim do mês, faz falta no bolso, principalmente do trabalhador, que constitui, sem sombra de dúvidas, o segmento social mais prejudicado. Além do alto valor a ser a pago, o passageiro tem que conviver com um sistema viário mal integrado, que o obriga a pegar mais de uma condução para chegar à localidade que deseja. E tudo isso, sem mencionar que Patos de Minas não pode nem ser considerada uma cidade de porte médio.
Na época mencionei também que este tema foi preocupação dos políticos patenses no ano de 2008. Durante a realização da campanha eleitoral para prefeito de Patos de Minas, todos os candidatos, de uma forma ou de outra, apresentaram propostas que teriam por objetivo diminuir o preço da passagem cobrada em até 30%. Todavia, quando findaram as eleições, a candidata eleita, Béia Savassi, mudou substancialmente a tônica do seu discurso. Sempre que questionada a respeito do que iria fazer para solucionar o problema, a prefeita só conseguiu dar respostas evasivas, que tendiam a mostrar o quão grande era o seu bom coração e o quão pequeno era o seu bom senso, atitude que, por sua vez, se traduziu com meridiana clareza nas ações por ela tomadas para diminuir o preço da passagem durante sua gestão, ou seja: nenhuma.
Mas, para fechar com chave de ouro (seria mais apropriado falar em chave de latão!), a atual prefeita colocou novamente em pauta essa questão. Conforme noticia uma matéria publicada na mídia (oficial e oficosa) de Patos[2], Béia Savassi e a Pássaro Branco propuseram algumas medidas para manter o preço da passagem em dois reais (não esqueçamos, que quando foi eleita em 2008, prometeu que iria diminuir e não manter o preço da passagem!). Uma dessas medidas é a obrigatoriedade do cartão eletrônico, dispensando o uso do dinheiro como forma de pagamento e, desse modo, prevenindo eventuais furtos aos ônibus.
Se lida a contrapelo, essa matéria revela questões que estão (evidentemente que de forma deliberada) sendo cuidadosamente ocultadas. Isso nos leva a uma pergunta a princípio prosaica, mas, de modo algum destituída de valor: quais questões ela revela e quais ela oculta? O fato, ou melhor, o fantasma construído pela prefeita e empresa não se sustenta de pé diante nem mesmo de uma análise elementar e esquemática. Como amplamente é sabido, o roubo – esse efeito perverso e insidioso da sociedade capitalista, que dá muito a poucos e pouco a muitos – aos ônibus em nossa cidade não é tão expressivo (me lembro de um ou outro caso episódico) para validar a argumentação de que tal prática geraria um ônus tão grande para a Pássaro Branco, que ela se veria forçada repassar seu prejuízo para o bolso do usuário.
Na realidade, esse preço só poderá ser mantido (e se for!), porque a empresa irá dispensar os funcionários que trabalham como cobradores, prática que já vinha sendo implementada em alguns ônibus desde o ano passado, que circulavam apenas com a presença do motorista, que, além de dirigir, também recebia o valor da passagem.Com essa estratégia, o objetivo visado pela empresa é quebrar qualquer laço de solidariedade classista entre os trabalhadores do transporte coletivo, pois, os motoristas destacados para os ônibus sem o cobrador acabam assumindo uma dupla função, se contentando com os ilusórios dez por cento que são adicionados ao seu salário no fim do mês. No entanto, essa estratégia não opõe apenas motoristas e cobradores, mas, também os próprios cobradores, haja vista que, depois de definitivamente implementado o cartão eletrônico,  metade da categoria será demitida e outra será remanejada de função, passando a vender os tais cartões em postos que serão espalhados em diferentes pontos da cidade.Divididos internamente, a categoria se lança em uma luta corporativista para ver quem é que ficará com o seu emprego ao fim e ao cabo desse processo, sem perceber (de modo voluntário ou involuntário) que essa luta não deveria ser entre eles próprios, mas, entre eles e seus patrões.
Ao justificar essa medida, Béia  argumenta que ela poderia assegurar a manutenção do preço da passagem em dois reais, o que permitiria com que a população continue tendo acesso aos ônibus. Escapa, entretanto, à prefeita que os trabalhadores que serão demitidos não podem ser entendidos apenas como cobradores, mas, também como usuários do transporte coletivo. Sem seus empregos, como poderão eles e suas respectivas famílias, que não possuem em sua grande maioria um meio de transporte particular, ter acesso ao transporte coletivo? Béia não responde essa questão, nem sequer a levanta, porque fazê-lo a forçaria a aceitar que essa medida não beneficia senão a empresa que  administra esse serviço.
Neste ano, a exemplo do que ocorre em outras cidades brasileiras, haverá a campanha eleitoral em Patos de Minas, em que três candidatos[3], inclusive a atual prefeita, irão apresentar suas respectivas propostas para a prefeitura de Patos de Minas. Como a propaganda política está apenas engatinhando não é possível saber ao certo quais são suas posições no que se refere o assunto em questão. No entanto, o eloqüente silêncio destes já nos permite avaliar que as suas posições não se diferenciam significativamente daquela já assumida por Béia. E mais, diria que ele nos oferece um termômetro para que possamos mensurar de que lado os candidatos, a despeito da sua retórica populista, estão e sempre estarão: contra o povo e a favor das elites, que governam a cidade desde tempos imemoriais.
Por esse motivo, não basta votar no candidato X ou Y, porque eles nunca irão representar senão os seus próprios interesses. Portanto, vote certo, vote nulo.Não basta, entretanto, anular o voto. É preciso que demonstremos alguma capacidade ação e organização próprias, que parta dos vários e diferentes locais em que estamos inseridos: bairros, escolas, trabalho, entre outros para assim podermos mostrar, coletivamente, que nenhum prefeito tem condições de resolver nossos problemas: sejam eles relativos ao transporte, trabalho, educação, saúde, moradia etc.
Vamos mostrar nessas eleições que nossas urgências são grandes demais para caber em urnas[4]!

Thiago Lemos Silva é mestre em História pela UFU e membro do Coletivo Mundo Ácrata.

[1]http://wwweidosinfozine.blogspot.com.br/2009/03/eidos-info-zine-14.html. Naquele momento, utlizei o pseudônimo de Diego Santos.


[3]Além de Béia, que é candidata pelo Democratas, temos ainda Pedro Lucas, pelo PSD e Amarildo Ferreira pelo PMDB.

[4] Retomo aqui o mote d’ “A Outra Campanha” (http://outracampanhabrasil.blogspot.com.br/), que, inspirada pelos zapatistas no México, procura construir no Brasil outra forma de fazer política, com base no protagonismo e na luta popular. Pois é "é na luta que se cria o poder popular, que fazemos valer nossos direitos e arrancamos das elites políticas e econômicas as conquistas que almejamos".