sábado, 4 de agosto de 2012


O transporte coletivo e as eleições para prefeito em patos de minas ou porque nossas urgências não podem caber nas urnas


        Como já escrevi  em outra ocasião[1], o preço da tarifa cobrada pela Pássaro Branco, empresa que granjeia o transporte coletivo em Patos de Minas, sempre foi uma grande preocupação para a parte da população que faz uso do mesmo. E não é para menos que deixem de se preocupar, pois, atualmente o preço cobrado pela passagem é de dois reais, valor que quando somado ao fim do mês, faz falta no bolso, principalmente do trabalhador, que constitui, sem sombra de dúvidas, o segmento social mais prejudicado. Além do alto valor a ser a pago, o passageiro tem que conviver com um sistema viário mal integrado, que o obriga a pegar mais de uma condução para chegar à localidade que deseja. E tudo isso, sem mencionar que Patos de Minas não pode nem ser considerada uma cidade de porte médio.
Na época mencionei também que este tema foi preocupação dos políticos patenses no ano de 2008. Durante a realização da campanha eleitoral para prefeito de Patos de Minas, todos os candidatos, de uma forma ou de outra, apresentaram propostas que teriam por objetivo diminuir o preço da passagem cobrada em até 30%. Todavia, quando findaram as eleições, a candidata eleita, Béia Savassi, mudou substancialmente a tônica do seu discurso. Sempre que questionada a respeito do que iria fazer para solucionar o problema, a prefeita só conseguiu dar respostas evasivas, que tendiam a mostrar o quão grande era o seu bom coração e o quão pequeno era o seu bom senso, atitude que, por sua vez, se traduziu com meridiana clareza nas ações por ela tomadas para diminuir o preço da passagem durante sua gestão, ou seja: nenhuma.
Mas, para fechar com chave de ouro (seria mais apropriado falar em chave de latão!), a atual prefeita colocou novamente em pauta essa questão. Conforme noticia uma matéria publicada na mídia (oficial e oficosa) de Patos[2], Béia Savassi e a Pássaro Branco propuseram algumas medidas para manter o preço da passagem em dois reais (não esqueçamos, que quando foi eleita em 2008, prometeu que iria diminuir e não manter o preço da passagem!). Uma dessas medidas é a obrigatoriedade do cartão eletrônico, dispensando o uso do dinheiro como forma de pagamento e, desse modo, prevenindo eventuais furtos aos ônibus.
Se lida a contrapelo, essa matéria revela questões que estão (evidentemente que de forma deliberada) sendo cuidadosamente ocultadas. Isso nos leva a uma pergunta a princípio prosaica, mas, de modo algum destituída de valor: quais questões ela revela e quais ela oculta? O fato, ou melhor, o fantasma construído pela prefeita e empresa não se sustenta de pé diante nem mesmo de uma análise elementar e esquemática. Como amplamente é sabido, o roubo – esse efeito perverso e insidioso da sociedade capitalista, que dá muito a poucos e pouco a muitos – aos ônibus em nossa cidade não é tão expressivo (me lembro de um ou outro caso episódico) para validar a argumentação de que tal prática geraria um ônus tão grande para a Pássaro Branco, que ela se veria forçada repassar seu prejuízo para o bolso do usuário.
Na realidade, esse preço só poderá ser mantido (e se for!), porque a empresa irá dispensar os funcionários que trabalham como cobradores, prática que já vinha sendo implementada em alguns ônibus desde o ano passado, que circulavam apenas com a presença do motorista, que, além de dirigir, também recebia o valor da passagem.Com essa estratégia, o objetivo visado pela empresa é quebrar qualquer laço de solidariedade classista entre os trabalhadores do transporte coletivo, pois, os motoristas destacados para os ônibus sem o cobrador acabam assumindo uma dupla função, se contentando com os ilusórios dez por cento que são adicionados ao seu salário no fim do mês. No entanto, essa estratégia não opõe apenas motoristas e cobradores, mas, também os próprios cobradores, haja vista que, depois de definitivamente implementado o cartão eletrônico,  metade da categoria será demitida e outra será remanejada de função, passando a vender os tais cartões em postos que serão espalhados em diferentes pontos da cidade.Divididos internamente, a categoria se lança em uma luta corporativista para ver quem é que ficará com o seu emprego ao fim e ao cabo desse processo, sem perceber (de modo voluntário ou involuntário) que essa luta não deveria ser entre eles próprios, mas, entre eles e seus patrões.
Ao justificar essa medida, Béia  argumenta que ela poderia assegurar a manutenção do preço da passagem em dois reais, o que permitiria com que a população continue tendo acesso aos ônibus. Escapa, entretanto, à prefeita que os trabalhadores que serão demitidos não podem ser entendidos apenas como cobradores, mas, também como usuários do transporte coletivo. Sem seus empregos, como poderão eles e suas respectivas famílias, que não possuem em sua grande maioria um meio de transporte particular, ter acesso ao transporte coletivo? Béia não responde essa questão, nem sequer a levanta, porque fazê-lo a forçaria a aceitar que essa medida não beneficia senão a empresa que  administra esse serviço.
Neste ano, a exemplo do que ocorre em outras cidades brasileiras, haverá a campanha eleitoral em Patos de Minas, em que três candidatos[3], inclusive a atual prefeita, irão apresentar suas respectivas propostas para a prefeitura de Patos de Minas. Como a propaganda política está apenas engatinhando não é possível saber ao certo quais são suas posições no que se refere o assunto em questão. No entanto, o eloqüente silêncio destes já nos permite avaliar que as suas posições não se diferenciam significativamente daquela já assumida por Béia. E mais, diria que ele nos oferece um termômetro para que possamos mensurar de que lado os candidatos, a despeito da sua retórica populista, estão e sempre estarão: contra o povo e a favor das elites, que governam a cidade desde tempos imemoriais.
Por esse motivo, não basta votar no candidato X ou Y, porque eles nunca irão representar senão os seus próprios interesses. Portanto, vote certo, vote nulo.Não basta, entretanto, anular o voto. É preciso que demonstremos alguma capacidade ação e organização próprias, que parta dos vários e diferentes locais em que estamos inseridos: bairros, escolas, trabalho, entre outros para assim podermos mostrar, coletivamente, que nenhum prefeito tem condições de resolver nossos problemas: sejam eles relativos ao transporte, trabalho, educação, saúde, moradia etc.
Vamos mostrar nessas eleições que nossas urgências são grandes demais para caber em urnas[4]!

Thiago Lemos Silva é mestre em História pela UFU e membro do Coletivo Mundo Ácrata.

[1]http://wwweidosinfozine.blogspot.com.br/2009/03/eidos-info-zine-14.html. Naquele momento, utlizei o pseudônimo de Diego Santos.


[3]Além de Béia, que é candidata pelo Democratas, temos ainda Pedro Lucas, pelo PSD e Amarildo Ferreira pelo PMDB.

[4] Retomo aqui o mote d’ “A Outra Campanha” (http://outracampanhabrasil.blogspot.com.br/), que, inspirada pelos zapatistas no México, procura construir no Brasil outra forma de fazer política, com base no protagonismo e na luta popular. Pois é "é na luta que se cria o poder popular, que fazemos valer nossos direitos e arrancamos das elites políticas e econômicas as conquistas que almejamos".

Nenhum comentário:

Postar um comentário