segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O GRUPO DE ESTUDOS EM IMAGINÁRIO, REPRESENTAÇÃO E IDEOLOGIAS POLÍTICAS convida a todos para sua próxima reunião.





Tema a ser debatido: O (des/en)cobrimento da psique enquanto imaginação radical: Castoriadis em diálogo com Freud.



Texto de apoio: CASTORIADIS,Cornelius. A instituição social-histórica: o indivíduo e a coisa. In: A instituição imaginária da sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.


Data: dia 01 de fevereiro, às 15:00 horas.

Local: sala 304, Bloco D (antigo prédio da FACISA), do Centro Universitário de Patos de Minas.

O texto encontra-se disponível para reprodução na xerocadora “RISC E RABISC”, na pasta do nosso grupo.O grupo se reúne quinzenalmente para debater de forma coletiva, com base em uma bibliografia previamente apontada, alguns aspectos relacionados aos temas: imaginário, representação e ideologias políticas, a partir de autores clássicos e contemporâneos, oriundos de diferentes matizes e matrizes: filosofia, história, psicologia, entre outras áreas das humanidades.







quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Comuna de Paris - Entrevista com Alexandre Samis - Tv Petroleira/Sindipetro


Da apatia à ação: o despertar da classe operária brasileira durante a greve geral de 1917*



LOPREATO, Christina da Silva Roquette. O espírito da revolta: a greve geral anarquista de 1917. São Paulo: Annablume, 2000.


Desde o final do século XIX e o início do século XX, o Brasil deu início a uma intensa política de imigração; sendo que no período subseqüente à abolição do regime escravista (1888) esse processo foi consideravelmente acelerado. Os imigrantes, compostos por homens e mulheres vindos de diferentes países do continente europeu, tais como Alemanha, Itália, Espanha e Portugal, chegaram no Brasil, em especial no estado de São Paulo, seduzidos pela idéia de alcançar uma melhor situação de vida e de, como eles mesmos diziam, “Fazer a América”.
Inicialmente, larga parcela destes trabalhadores foi empregada no meio rural, substituindo os negros (até então escravos) no trabalho agrícola em lavouras cafeeiras. O tratamento endereçado ao trabalhador recém chegado no país carregava consigo, ainda, um acento fortemente escravista, que parecia não reconhecer a liberdade contratual existente nas relações sociais de conteúdo capitalista. Recebendo salários de subsistência, alocados em péssimas moradias, realizando altas jornadas diárias de trabalho,e, até sofrendo castigos físicos, esses trabalhadores começam a perceber que seu sonho estava se transformando em um pesadelo. Insatisfeitos com essa situação, esses trabalhadores começam a se revoltar e fugir das fazendas.
Aqueles que possuíam condições financeiras melhores voltaram para os seus países de origem, aqueles que não, se dirigiram para outros locais dentro do próprio pais, sendo que um número considerável destes se dirigiu para a capital paulista, onde iriam compor um jovem movimento operário, que se formava junto à incipiente indústria brasileira. Juntamente com a corrente imigratória que trouxe os trabalhadores europeus, chegaram também os anarquistas estrangeiros, em sua maioria, procurando refúgio e proteção das perseguições políticas em suas terras natais.
Nessa mudança do cenário rural para o cenário urbano, a situação dos trabalhadores não foi alterada de forma substancial; eles continuavam recebendo salários baixos, moravam em cortiços e eram submetidos a uma grande jornada diária de trabalho. Diante da situação existente na sociedade brasileira, o anarquismo se transformou em uma ideologia forte nos meios operários. De acordo com Lopreato, a semente plantada por trabalhadores e militantes estrangeiros germinou. “A planta exótica do anarquismo floresceu em solo paulista e em outras cidades brasileiras, e foi se revelando uma força política ativa, capaz de fazer adeptos e de mobilizar os trabalhadores em movimentos de protesto contra as mazelas da sociedade burguesa” (p.10).
As duas correntes anarquistas que gozaram de maior expressividade junto ao primeiro movimento operário brasileiro foram os anarquistas sindicalistas e os anarco-comunistas. Apesar das divergências quanto aos alcances e limites da ação sindical, ambos possuíam o mesmo método de luta: a ação direta, que segundo Lopreato “expressa a crença de que o proletariado só se libertará quando confiar na influência de sua própria ação, direta e autônoma, prescindindo de intermediários no conflito capital/trabalho (...), que a classe trabalhadora nada deve esperar de forças externas a ela mesma. Pois é ela que deve criar suas próprias condições de luta e os seus meios de ação.(...). (p. 20)
Aderindo ao anarquismo sindicalista ou ao anarco-comunismo, esses trabalhadores lançaram mão do boicote, da sabotagem e, em especial, da greve, para resistir aos abusos do patronato e Estado brasileiros. Nesse sentido, Lopreato analisa a atuação do movimento anarquista junto ao movimento operário, dando ênfase ao projeto que estes realizaram com os trabalhadores para retirá-los da apatia e incitá-los a ação contra as condições de vida alvitantes impostas pelo nascente capitalismo no Brasil. A partir dessa perspectiva, as greves de 1906, 1912, e, principalmente, a de 1917, “marco histórico no processo da formação da classe operária” (p.216), são vistas como o resultado do enraizamento e duração do princípio político anarquista da ação direta.
Pois é justamente desta última de que nos fala Christina Roquette Lopreato no seu livro “O Espírito da Revolta: a greve geral anarquista de 1917”. Resultado de pesquisa e redação de doutorado defendido em 1996 junto ao departamento de História da Unicamp, o livro se propõe a “recontar a história da greve geral de 1917”, “procurando captar seus desdobramentos e ressonâncias” (p.26).
Depois de um interregno de cinco anos, os trabalhadores paulistas despertaram do seu estado de apatia e resolveram agir. Segundo a autora, no mês de julho de 1917 uma greve geral interrompeu e paralisou grande parte das atividades industriais, comerciais, setor de serviços e o de transporte na antiga paulicéia. De 9 a 16 de julho, cerca de cem mil trabalhadores cruzaram os braços e passaram a exigir dos patrões o reconhecimento de direitos fundamentais tais como: liberdade de reunião, reconhecimento sindical, jornada de oito horas diárias, melhores salários, condições adequadas de trabalho, repouso semanal e o fim do trabalho noturno para mulheres e crianças.
As diversas categorias de trabalhadores em greve: tecelões, marceneiros, pedreiros, chapeleiros, sapateiros, costureiras, lavadeiras, cozinheiras entre outros, desempenharam um papel ativo no processo de discussão de suas reivindicações e na formulação de suas propostas. Como resultado do referido, surgiu o Comitê de Defesa Proletária (CPD) para unir os trabalhadores e coordenar suas ações. Entre os seus membros mais aguerridos destacaram-se os anarquistas Edgard Leunroth e Gigi Damiani.
Com o acirramento do conflito entre capital e trabalho, o governo de São Paulo mobilizou cerca de sete mil soldados para reprimir as manifestações grevistas. O embate físico entre soldados e trabalhadores resultou em três mortes (isso, segundo os saldos oficiais) e centenas de feridos.
Temerosos de que a ação dos trabalhadores se radicalizasse ainda mais, Lopreato argumenta que os industriais começaram acenar para a possibilidade de uma proposta conciliatória, que só ganhou contornos mais definidos após o ingresso dos jornalistas para mediar as negociações. Depois de se reunirem com os jornalistas e discutir a proposta dos patrões e governantes, o CPD convocou os trabalhadores para avaliar a proposta em questão. Atendendo ao apelo do CPD, um número aproximado de dez mil operários compareceram aos comícios realizados nos bairros Mooca, Braz e Ipiranga e deliberaram pelo fim da greve.
A suspensão da greve foi comemorada por toda a imprensa paulistana, que noticiava em suas manchetes a vitória material e moral dos trabalhadores sobre os patrões e os governantes. “A significação moral foi, no entanto, maior que o ganho material”. “Comemorada ao som da Internacional” a autora registra que ela “simbolizou o reconhecimento das pretensões operárias” (p.66).
Na direção oposta das conclusões que muitos historiadores chegaram sobre os alcances e limites das vitórias do jovem proletariado brasileiro, a autora chama a atenção para a conquista da questão social, obtida a partir da ação conjunta desses dois movimentos. De acordo com Lopreato, “num país de forte tradição agrícola em que o escravismo ainda permanecia no imaginário social, foram os operários a mostrar que a transformação do Brasil num país moderno estava a exigir novas regras de convivência social” ( p.218)
Para além do interesse estritamente historiográfico, esta resenha do livro “O Espírito da Revolta” tem também um interesse político. Pois, a greve geral de 1917 confirma uma das verdades mais banais que existe na história, qual seja: os trabalhadores só podem obter as conquistas que são capazes de tomar! Essa reflexão, a meu ver, é primordial tanto aos trabalhadores de ontem quanto aos de hoje.



Thiago Lemos Silva é mestre em História pela UFU, professor de educação básica da rede pública e particular e me,bro do Coletivo Mundo Ácrata.

Nota

* Resenha originalmente publicada em Eidos info-zine, Patos de Minas, nº24,Jun 2010. Disponível em: http://wwweidosinfozine.blogspot.com.br/2010/06/editorial-caros-amigos-nesta-edicao.html