GRUPO 4: Das insurgências populares no século XVIII à mobilização dos movimentos sociais contemporâneos no século XXI: sobre a atualidade da ação direta.
Coordenador: Munís Pedro Alves (Instituição: Universidade 
Federal de Uberlândia) e Thiago Lemos Silva (Titulação: Mestrado | 
Instituição: UNIPAM)
Ementa: 
“Repudiamos a ação eleitoral e parlamentar, que só serve para 
reforçar o Estado e adormecer as energias populares. O nosso método é 
ação direta que […] tende a despertar a iniciativa e a coragem, leva a 
agir por conta própria, a unir-se, a viver sem tutela” (VASCO, Neno. O 
que somos. A Plebe. São Paulo,n º54, 28/07/1920). Ao enunciar sua 
definição dos militantes anarquistas engajados com o jornal A Plebe, 
Neno Vasco introduziu uma imagem capaz de traduzir o aspecto 
essencialmente pedagógico da ação direta, que impregnou profundamente a 
luta política levada pelo movimento operário brasileiro durante o 
contexto que abarca o período da Primeira República. Inscrevendo a ação 
direta no coração da política, Neno Vasco e seus companheiros de viagem 
apostavam na possibilidade de o proletariado aprender, por si mesmo, a 
lutar em prol dos interesses da sua classe social, construir a 
consciência dos antagonismos entre capital-trabalho, superar a função do
 Estado e, por conseguinte, revolucionar a sociedade capitalista. A ação
 direta enquanto estratégia de luta, entretanto, não foi inventada pelo 
movimento operário brasileiro de fins do século XIX e, muito menos, 
restringe-se ao mundo trabalho. Inscrita em uma dinâmica histórica que 
nos remete, pelo menos, já ao século XVIII, a ação direta se fez 
presente por meio da participação massiva de setores populares durante a
 Revolução Francesa, e assumiu contornos mais delineados no século XX, 
durante uma série de episódios de convulsão social protagonizados pela 
jovem classe proletária, tais como greves, sabotagens, boicotes e, não 
raro, revoluções ( Rússia, Alemanha e Espanha), até chegar aos 
movimentos sociais contemporâneos : tais como o sem terra, sem teto, 
negro, indígena, feminista, GLBTT através de ocupações, atos, marchas e 
outras formas de manifestação que tem mostrado a atualidade do 
questionamento às regras que instituem e estruturam o campo do político 
segundo o jogo liberal-democrático . Nesse sentido, o referido Grupo de 
Trabalho propõe-se a fazer uma reflexão acerca do fazer político para 
além do Estado, buscando cruzar tanto seus aspectos racionais, que são 
mais visíveis (acontecimentos, estruturas, ideologias), quanto seus 
aspectos mais difíceis de caracterizar, posto que sensíveis (pulsões 
inconscientes, sentimentos morais, paixões coletivas). Interessa ao 
Grupo, portanto, trabalhos que problematizem a ação direta dos 
movimentos sociais vinculados ao campo já consagrado dos estudos sobre 
classe, mas, também dos novos campos de estudo que surgiram 
recentemente, a saber: sobre etnia, gênero, sexualidade etc, enfocando 
seus múltiplos aspectos: políticos, econômicos, sociais, educacionais e 
culturais.
BIBLIOGRAFIA:
COLOMBO,Eduardo, (Orgs) História do Movimento Operário Revolucionário. São Paulo: Imaginário, 2004.
GUIMARÃES,Adonile Ancelmo. Anarquismo e ação direta como estratégia 
ético-política: violência e persuasão na modernidade. Dissertação 
(Mestrado em História). UFU, Uberlândia. 2008.
HARVEY, David; MARICATO, Ermínia; DAVIS, Mike et. all. Cidades 
rebeldes: passe livre e manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São
 Paulo: Boitempo, 2013.
LUDD, Ned (org). Urgência das ruas: Black Block, Reclaim The Streets e
 os Dias de Ação Global. Trad. Leo Vinícius. Sem Lugar: Coletivo 
Sabotagem, 2005.
SEIXAS, Jacy Alves. Memoire et oubli: Anarchisme et Syndicalisme 
revoluttionaire au Brésil. Paris: Editions de la Maison des Sciences de 
l’Homme. 1992.
Resumos e ordem de apresentações do Grupo de Trabalho
Terça-feira: 09/06/15
1 – FABRÍCIO PÍNTO MONTEIRO
Pierre-Joseph Proudhon: Dialética Do Antidogmatismo
Esta comunicação possui como tema central o pensamento do “pai da anarquia”, Pierre-Joseph Proudhon. Sua meta, entretanto, não é simplesmente descrever suas ideias, suas propostas e conceitos, nem mesmo expôr detalhes de sua vida e trajetória política como uma narrativa linear na França de meados do século XIX. Em consonância com os objetivos deste Grupo de Trabalho, o pensamento e os atos de Proudhon serão problematizados tendo em vista elementos chave para a luta libertária em nossa atualidade – mais especificamente, a construção do antidogmatismo como um valor e prática social.
De uma forma simples, o entendimento do que seria a anarquia e o 
anarquismo quase naturalmente teria como pressuposto tal valor. A luta 
contra o autoritarismo, as restrições descabidas de liberdade, a 
exploração e desigualdade social, a cristalização e imposição de valores
 e formas de vivência, tudo constrói-se sob o princípio da possibilidade
 de questionamento e renovação.
Por outro lado, a prática militante cotidiana do anarquista – a 
prática humana cotidiana do anarquista, de modo mais geral – muitas 
vezes é acompanhada por intolerância, apego a conceitos   teóricos que 
lhe acorrentam a ação, eliminação de possibilidades de diálogo e 
harmonização porque o outro é visto como um inimigo (ou “traidor”, ou “falso” etc.), mesmo que esse outro não devesse ser considerado tão outro assim…
Problematizar essas questões sob o tema do pensamento de Proudhon, 
não significa a busca de receitas para nossa vida presente em um passado
 distante – rigorosamente falando, estamos construindo novamente aquele 
passado justamente ao levantar tais questões e reflexões hoje. Trata-se 
de observar outra época, outras relações sociais, outras experiências 
(que podem também não ser tão outras assim…), o que pode nos auxiliar a romper a cegueira que, imersos em nossa própria época, muitas vezes impomos a nós mesmos.
2 – JOÃO GABRIEL DA FONSECA MATEUS
Por uma vida sem catracas! A luta popular contra o aumento da tarifa do transporte em Goiânia
O ano de 2013, especificamente nos liames dos meses de abril a junho,
 proporcionou uma onda de manifestações em todo o Brasil. Lutas 
específicas e amplas apontaram para a necessidade de transformações 
sociais. Apesar do aspecto de ampliação que tomou as manifestações, nos 
limitaremos nessa apresentação a discutir as mobilizações populares que 
giraram em torno da questão do transporte coletivo urbano que marcaram 
presença nas ruas de centenas de cidades, dando enfoque para os atos 
ocorridos em Goiânia. Após isso, faremos uma breve exposição das 
concepções gerais da Frente de Luta contra o Aumento da Passagem,
 organização que figurou na coordenação de atos de luta sobre o 
transporte na capital goianiense. Assim, ressaltaremos as concepções 
libertárias desse movimento tais como a) autonomia política, 
organizativa e econômica; b) apartidarismo; c) combatividade; d) 
autogestão interna; e) livre associação dos indivíduos; f) ação direta; 
g) horizontalidade interna; h) decisões coletivas; i) revogabilidade e 
temporalidade das comissões; j) solidariedade entre membros.
3- VICTOR HUGO SOLIZ
Contribuição Epistemológica do Pensamento Libertário em Reclus e Kropotkin na Práxis do Ensino de Geografia
O propósito deste trabalho é problematizar a contribuição 
epistemológica do pensamento libertário de Reclus e Kropotkin para a 
práxis do ensino de geografia. Para tanto, dividirei minha apresentação 
em 4 partes. A primeira parte será uma retomada histórica de todos os 
pontos importantes para o desenvolvimento do trabalho, não apenas para 
contextualizar evitando confusões (principalmente em relação a Paulo 
Freire e aos discursos ultraliberais que se travestem de libertários), 
mas também para evitar anacronismos. Então para atingir tal objetivo 
será feita uma pesquisa bibliográfica que traga o surgimento da 
pedagogia libertária e suas críticas ao modelo educacional da época. Não
 é possível falar da pedagogia libertária sem falar das correntes 
libertárias que deram condições para essa pedagogia surgir, então serão 
resgatadas todas as visões políticas das diferentes cosmovisões que se 
uniriam após o congresso de haia (1872), incluindo as visões políticas 
de Reclus e Kropotkin. A segunda irá buscar compreender a geografia 
escolar de modo a não apenas entender como se dá o processo de ensino de
 geografia, mas o que se ensina e com qual objetivo se ensina. Essa 
compreensão se apoiará menos nos livros e mais nas visitas às escolas de
 modo a entender empiricamente como estas questões. A pesquisa 
bibliográfica servirá como respaldo para a busca de elementos comuns em 
escala nacional (já que é inviável acompanhar essas questões em todo o 
país). A partir desses elementos se retomará as críticas que a pedagogia
 libertária trouxe ao sistema de ensino que lhe era contemporâneo, 
feitas no primeiro capítulo, de modo a analisar empiricamente quais 
dessas críticas ainda são pertinentes de modo a se esboçar uma teoria de
 crítica ao modelo de ensino geográfico hegemônico. Na terceira parte, 
trago o relato de experiência prática com estudantes dentro de 
determinada escola em uberlândia, ele se apoiará nas ideias libertárias 
para a sociedade e para a pedagogia trazidas na primeira parte aliadas à
 crítica propositiva criada na segunda de modo a se criar uma práxis na 
qual se avaliará as limitações da pedagogia libertária no atual modelo 
escolar. Na criação dessa práxis são indispensáveis as contribuições de 
Reclus e Kropotkin com sua visão de que a geografia tinha que servir 
como ferramenta de libertação das pessoas. Para atingir tal objetivo 
serão escolhidas preferencialmente duas turmas nessa escola, uma do 
sexto ano do ensino fundamental e outra do terceiro ano do ensino médio,
 de modo a se averiguar como o maior tempo de exposição ao modelo 
escolar disciplinador afeta a práxis que busca a autonomia. Depois será 
feito um relato completo e detalhado de maneira próxima ao que foi feito
 nesse relatório de estágio em anexo.  Na última, trago uma reflexão 
sobre a práxis detalhada na anterior, de modo a se fazer uma proposição 
sobre o ensino de geografia dentro das escolas, para isso não bastará 
verificar suas limitações que a práxis  trazia, mas também fazer um 
processo de autocrítica de modo a se conseguir se expandir as 
possibilidades de ação dentro da escola, de modo a não apenas se buscar 
uma proposição que busque alimentar a autonomia e a solidariedade, mas 
também se fazer o deslocamento do conhecimento platônico idealizado para
 prática calcada na realidade.
Quarta-feira: 10/06/15
4 – VILMAR MARTINS JR.
O Movimento Revolucionário 21 de Abril: A Desventura da guerrilha. Uberlândia-MG 1966-1967.
A chamada “resistência democrática”, esboçada no Brasil após o golpe 
civil-militar de 1964, se constituiu como um dos principais enfoques da 
historiografia brasileira a respeito do regime anterior à Constituição 
de 1988. São poucas, entretanto, as abordagens que levam em conta 
eventos ocorridos em cidades interioranas de médio porte, sobretudo fora
 do eixo Rio São Paulo.  Nosso objetivo é apresentar algumas reflexões 
decorrentes de pesquisa desenvolvida para monografia no curso de 
graduação em História sobre o “Movimento Revolucionário 21 de Abril” ou 
“Guerrilha de Uberlândia”, como foi denominado por alguns veículos da 
imprensa, um grupo de homens no Triângulo Mineiro que se propuseram a 
organizar a luta armada na região.
Presos e acusados de terrorismo pelo Exército em 1967, o MR-21 
constituiu-se a partir do contato com o PCB, PCdoB e, posteriormente com
 o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), sob a suposta liderança 
de Leonel Brizola, exilado no Uruguai. Apesar do grupo nunca ter 
executado uma ação prática de enfrentamento direto contra o regime, 
foram enquadrados e julgados sob a Lei de Segurança Nacional. O caso do 
MR-21 permite-nos uma reflexão acerca da atualidade dos embates 
políticos e sociais existentes no regime democrático, constituído a 
partir de uma transição pactuada com a ditadura e da qual ainda 
prevalecem algumas orientações ideológicas e normativas a respeito da 
caracterização dos chamados “inimigos”. Nesse sentido convém refletir, 
por um lado, sobre as estratégias de luta e enfrentamento político 
contra o Estado e, por outro lado, sobre o aparato repressivo empregado 
contra os movimentos sociais em função dos interesses dominantes no 
país.
As principais fontes utilizadas na pesquisa, além da bibliografia 
disponível, são entrevistas, documentos dos órgãos de informação e 
notícias de imprensa. Pretende-se problematizar a visão de alguns dos 
envolvidos no processo, como também, abordar a construção do fato sobre a
 existência de “guerrilheiros” no Triângulo Mineiro tanto pela imprensa,
 quanto pelas Forças Armadas à época.
5 – BIANCA ARANTES
MIB: Movimento Indígena no Brasil
As reuniões de vários povos indígenas ocorridas entre os anos de 1974
 e 1980 (Assembleias Indígenas), que contabilizaram cerca de quinze 
assembleias, inicialmente organizadas e apoiadas Cimi são consideradas 
como o acontecimento fundador do Movimento Indígena no Brasil (MIB). 
Elas provocaram uma ruptura na forma de atuação dos indígenas dentro da 
política indigenista. Arrisca-se a dizer que foi a primeira vez que os 
indígenas apareceram como sujeitos políticos e conseguiram tornar 
pública a sua versão da história do Brasil. O MIB mostra que os 
indígenas vistos durante séculos como incapazes são bons e quiçá os 
melhores interlocutores de suas próprias culturas e os únicos 
genuinamente aptos a representarem seus próprios interesses. Foi após a 
Constituição de 1988 quando as culturas indígenas foram consideradas 
como parte da nação brasileira que as organizações indígenas se 
fortaleceram institucionalmente. E em 1989, o Movimento Indígena no 
Brasil ganha novo fôlego com a Convenção Nº 169 da Organização 
Internacional do Trabalho (OIT) declarando que os povos indígenas e 
tribais deveriam gozar plenamente dos direitos humanos e liberdades 
fundamentais, sem obstáculos ou discriminações. Além de oferecer 
assistência jurídica aos povos indígenas e aliados, o Conselho 
Indigenista Missionário (Cimi) mantém uma página na internet e um 
jornal, para informar sobre a questão indígena e denunciar omissões e 
desserviços do Estado. O MIB como um movimento social se insere no grupo
 das organizações populares, que no Brasil ganharam força a partir da 
década de 1970, inicialmente estabelecendo relações de oposição e 
resistência ao Estado, visto como cerceador de direitos sociais e 
políticos. Com o fim do Regime Militar em 1985, as mobilizações sociais,
 saíram das ruas e se voltaram para os ambientes institucionalizados. 
Assim como as demais organizações populares, os indígenas se 
rearticularam interna e externamente, saíram de suas comunidades e 
entorno, tornando os grandes centros urbanos, principalmente a capital 
federal, o local da afirmação dos direitos indígenas e trazendo à 
política indigenista novos atores políticos, atores estes não mais 
indigenistas como Rondon, Ribeiro, os irmãos Villas-Bôas e etc., mas 
chefes e líderes indígenas como Raoni Metuktire, Megaron Txukarramãe, 
Mário Juruna, Ailton Krenak, entre outros. O MIB ganha ressonância 
nacional e internacional com ênfase na reação ao sistema vigente, na 
luta por direitos políticos e sociais, e pela conquista de igualdade de 
direitos em relação aos demais cidadãos nacionais; além de defender o 
direito à diferença cultural, que é peculiar à sua sobrevivência.
6 – LARISSA VIEIRA e  LEANDRA SILVÉRIO
A relação do movimento negro contemporâneo com as formas de resistência no Brasil Colônia
Relacionar movimentos de resistência negra do tempo da escravidão com
 os movimentos de luta negra contemporâneos. Como os quilombos e 
movimentos abolicionistas, que surgiram no século XIX, e cuja finalidade
 era de mudança política em benefício da sociedade negra.
Tratar também de outros grupos como as Irmandades que eram formadas 
principalmente por negros forros ou não, que por meio da fé e da 
religião se uniam, escravos africanos e escravos nascidos no Brasil 
cultuavam ritos e valores deixados pela cultura africana. Além de 
preservar laços de solidariedade como, por exemplo, subsidiar a compra 
de alforria de outros escravos. Ali era um lugar de estar entre irmãos, 
de assessoria  e de se encontrar culturalmente. E assim perceber que os 
movimentos de integração entre negros sempre existiu durante a história 
do país, e que a partir do século XX vão surgir vários movimentos 
desencadeados principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro e que vão 
tomar alcance nacional.
Como a imprensa negra a imprensa negra uma forma de organização 
escolhida entre os membros da população negra brasileira, como forma de 
fugir da “reprodução da ideologia racista da época”. Nos folhetins 
incluíam anúncios de eventos onde os negros e adeptos se encontravam e 
eram o centro das atenções culturais e sociais, sem qualquer chance de 
adentrar ali as ideais predominantes da cultura branca. Esses tipos de 
Jornais têm forte ligação com as associações negras desde o início do 
século XX. Ambas tinham o objetivo de suprir as necessidades de integrar
 os negros na sociedade brasileira. O Jornal auxilia as associações a 
ter mais visibilidade, ajuda na promoção de eventos culturais 
recreativos fornecidos por ela.
Já as associações se atentavam principalmente com o racismo e a 
discriminação vivenciado pelos negros e se preocupavam também com a 
educação e a cultura que na maioria das vezes eram vetadas de chegar até
 a comunidade negra, ou para a comunidade menos favorecida 
financeiramente. Por isso ali eram discutidas questões como a 
desigualdade racial no país, a diferença das condições de trabalho entre
 negros e brancos, entre outras reivindicações, e para tentar diminuir 
tal discriminação as associações e movimentos negros sempre investiram 
na educação e na leitura, fazendo com que um maior número de letrados 
negros pudessem fazer diferença no futuro.
Quinta-Feira: 11/06/15
7 – ADRIANO SKODA
A solidariedade como ação direta: a rede de produção política e científica dos geógrafos anarquistas
O presente trabalho busca apresentar como se configurou a rede de 
trabalho entre os geógrafos anarquistas, enfocando principalmente nas 
relações entre Élisée Reclus e  Piotr Kropotkin. Reclus em seu trabalho 
monumental Nouvelle Géographie Universelle (NGU), publicado 
entre os anos de 1876 e 1894, contou com a colaboração de diversos 
militantes e cientistas para o desenvolvimento de sua obra, tais como 
Piotr Kropotkin, León Metchnikoff, Charles Perron. Estes trabalhos 
realizados com o financiamento da editora Hachette, de París, 
França, serviu como aporte econômico aos militantes anarquistas, 
permitindo a estes realizar trabalhos políticos para além da dedicação 
da obra geográfica, como foi o caso da revista internacionalista Le Travailleur,
 dirigida por Reclus (autor da NGU) e Perron (cartógrafo da NGU), e que 
contou com a colaboração fixa de Metchnikoff, Dragomanov e Lefrançais 
(secretário editorial da NGU), publicada durante o período de exílio 
destes na Suíça nos anos de 1870. Assim, o trabalho pretende aprofundar 
na análise das relações de apoio mútuo entre os militantes afim de 
compreender como essas práticas de solidariedade permitiram uma 
ampliação das práticas e lutas de ação direta por parte dos anarquistas.
8 – RODRIGO ROSA DA SILVA
Educação anarquista, ciência e ação direta: a Escola Moderna de Barcelona
O presente trabalho propõe em sua análise não dissociação entre os 
aspectos pedagógicos da Escuela Moderna de Barcelona (1901-1906) e seu 
projeto político; acreditamos na íntima relação entre a produção 
científica e a visão política de qualquer intelectual ou pesquisador; 
também entendemos o aporte do racionalismo e do cientificismo à educação
 proposta por Ferrer como parte de uma ação política consciente. Em 
nossa concepção a Escuela Moderna foi sim uma escola, mas muito mais do 
que isso: foi também uma editora; um laboratório científico e 
pedagógico; um espaço de luta política e ação direta contra a igreja, o 
estado e o capitalismo. Francisco Ferrer pode ser tomado como um eixo 
central de uma complexa rede que envolveu cientistas, educadores e 
homens e mulheres ligados à política, ao sindicalismo revolucionário e 
ao anarquismo na Europa. O projeto da Escuela Moderna foi um produto 
coletivo, resultado da colaboração de muitas pessoas. Era assim que 
Kropotkin e Reclus entendiam que o pensamento evolui e que a humanidade 
caminha rumo ao progresso: pela soma da experiência e do trabalho de 
todos os homens e mulheres do passado e do presente, com vistas à 
construção de um novo amanhã.
9 – CLÁUDIA TOLENTINO GONÇALVES FELIPE
Circulação anarquista de saberes no pós-guerra (1945-1969)
Nesta comunicação vou tratar de alguns resultados preliminares de 
minha pesquisa de doutoramento, que está sendo desenvolvida na 
Universidade Estadual de Campinas. Em linhas gerais, busco compreender 
como alguns anarquistas colocaram em trânsito saberes e projetos 
políticos através de documentos (livros, jornais e panfletos) produzidos
 no pós-guerra (entre 1945 e 1969).  Neste período, os escritos 
anarquistas circularam a nível internacional, pois havia uma comunhão de
 interesses e uma articulação entre movimentos libertários de diferentes
 partes do mundo. Há, ao que parece, o uso de um “idioma libertário”, 
termo genérico que remete a conceitos, argumentos e juízos através dos 
quais os anarquistas enxergavam e liam o mundo à sua volta. Este idioma 
dependia não somente da circulação de textos, mas também de pessoas 
(representantes de grupos anarquistas e refugiados, em sua maioria). Por
 que razão esta circulação de saberes e de pessoas se acentuou e ganhou 
nova articulação no pós-guerra? Para sondar esta questão, trabalho com 
conceitos como o de solidariedade, que parece ter ganhado novo sentido 
quando mobilizado na crítica aos vários autoritarismos então vigentes, e
 o de universalismo, que foi utilizado para contrariar os nacionalismos 
que teriam motivado não apenas a(s) guerra(s), mas também os regimes 
autoritários que ganharam força na primeira metade do século XX. Além 
disso, pretendo compreender em que medida as tentativas de estreitamento
 de laços entre militantes respondia ao aparato destrutivo das guerras e
 analisar o lugar ocupado pelo Brasil neste cenário.
10 – THIAGO LEMOS
A emancipação das mulheres será obra das próprias mulheres? 
Reflexões acerca do debate entre Lucía Sánchez Saornil e Mariano Vàzquez
 nas páginas de Solidaridad Obrera
Nas primeiras décadas do século XX, o movimento anarquista e 
anarco-sindicalista espanhol constitui-se num vigoroso movimento de 
massas, colocando-se à frente de uma série de greves, atos, motins e 
insurreições, com o objetivo de preparar a classe operária para o 
processo revolucionário que daria fim ao capitalismo e ao Estado. Apesar
 de obter esta forte penetração no mundo operário, chegando a fundar 
sindicatos ( Confederación Nacional del Trabajo- CNT) e grupos 
específicos ( Federación Anarquista Ibérica – FAI) que contavam com 
milhões de trabalhadores e trabalhadoras, as questões de classe 
sobrepunham-se às questões de gênero de tal modo, que acabavam por 
aceitar e naturalizar a dupla  opressão, tanto de classe quanto de 
gênero, que as mulheres  sofriam  em relação aos homens, nos vários 
espaços em que estavam inseridas: casa, fábrica, sindicato e grupo 
específico, revelando que o machismo era algo que não se restringia  à 
burguesia, mas, que também encontrava-se profundamente enraizado no 
proletariado. Com objetivo de reverter tal situação, iniciou-se uma 
série de campanhas nos meios anarquistas e operários, através da 
publicação de jornais, revistas e folhetos que buscavam 
esclarecer/sensibilizar militantes e trabalhadores acerca da “questão 
sexual”. O ponto de culminância desta campanha deu-se no debate travado 
entre Lucía Sánchez Saornil e Mariano Vàzquez nas páginas do jornal 
barcelonês Solidaridad Obrera, em fins de 1935. Tomando como fio 
condutor este debate, o presente trabalho propõe-se a problematizar 
algumas questões, a saber: A emancipação das mulheres será obra das 
próprias mulheres? Os homens podem e/ou devem contribuir para a 
emancipação das mulheres? Enfim quais sujeitos são os protagonistas e 
quais são os coadjuvantes deste processo? Em linhas gerais,  estas são 
as perguntas que pretendo responder, ou melhor, formular ao longo desta 
pesquisa ainda em fase de gestação.

 
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