GRUPO 4: Das insurgências populares no século XVIII à mobilização dos movimentos sociais contemporâneos no século XXI: sobre a atualidade da ação direta.
Coordenador: Munís Pedro Alves (Instituição: Universidade
Federal de Uberlândia) e Thiago Lemos Silva (Titulação: Mestrado |
Instituição: UNIPAM)
Ementa:
“Repudiamos a ação eleitoral e parlamentar, que só serve para
reforçar o Estado e adormecer as energias populares. O nosso método é
ação direta que […] tende a despertar a iniciativa e a coragem, leva a
agir por conta própria, a unir-se, a viver sem tutela” (VASCO, Neno. O
que somos. A Plebe. São Paulo,n º54, 28/07/1920). Ao enunciar sua
definição dos militantes anarquistas engajados com o jornal A Plebe,
Neno Vasco introduziu uma imagem capaz de traduzir o aspecto
essencialmente pedagógico da ação direta, que impregnou profundamente a
luta política levada pelo movimento operário brasileiro durante o
contexto que abarca o período da Primeira República. Inscrevendo a ação
direta no coração da política, Neno Vasco e seus companheiros de viagem
apostavam na possibilidade de o proletariado aprender, por si mesmo, a
lutar em prol dos interesses da sua classe social, construir a
consciência dos antagonismos entre capital-trabalho, superar a função do
Estado e, por conseguinte, revolucionar a sociedade capitalista. A ação
direta enquanto estratégia de luta, entretanto, não foi inventada pelo
movimento operário brasileiro de fins do século XIX e, muito menos,
restringe-se ao mundo trabalho. Inscrita em uma dinâmica histórica que
nos remete, pelo menos, já ao século XVIII, a ação direta se fez
presente por meio da participação massiva de setores populares durante a
Revolução Francesa, e assumiu contornos mais delineados no século XX,
durante uma série de episódios de convulsão social protagonizados pela
jovem classe proletária, tais como greves, sabotagens, boicotes e, não
raro, revoluções ( Rússia, Alemanha e Espanha), até chegar aos
movimentos sociais contemporâneos : tais como o sem terra, sem teto,
negro, indígena, feminista, GLBTT através de ocupações, atos, marchas e
outras formas de manifestação que tem mostrado a atualidade do
questionamento às regras que instituem e estruturam o campo do político
segundo o jogo liberal-democrático . Nesse sentido, o referido Grupo de
Trabalho propõe-se a fazer uma reflexão acerca do fazer político para
além do Estado, buscando cruzar tanto seus aspectos racionais, que são
mais visíveis (acontecimentos, estruturas, ideologias), quanto seus
aspectos mais difíceis de caracterizar, posto que sensíveis (pulsões
inconscientes, sentimentos morais, paixões coletivas). Interessa ao
Grupo, portanto, trabalhos que problematizem a ação direta dos
movimentos sociais vinculados ao campo já consagrado dos estudos sobre
classe, mas, também dos novos campos de estudo que surgiram
recentemente, a saber: sobre etnia, gênero, sexualidade etc, enfocando
seus múltiplos aspectos: políticos, econômicos, sociais, educacionais e
culturais.
BIBLIOGRAFIA:
COLOMBO,Eduardo, (Orgs) História do Movimento Operário Revolucionário. São Paulo: Imaginário, 2004.
GUIMARÃES,Adonile Ancelmo. Anarquismo e ação direta como estratégia
ético-política: violência e persuasão na modernidade. Dissertação
(Mestrado em História). UFU, Uberlândia. 2008.
HARVEY, David; MARICATO, Ermínia; DAVIS, Mike et. all. Cidades
rebeldes: passe livre e manifestações que tomaram as ruas do Brasil. São
Paulo: Boitempo, 2013.
LUDD, Ned (org). Urgência das ruas: Black Block, Reclaim The Streets e
os Dias de Ação Global. Trad. Leo Vinícius. Sem Lugar: Coletivo
Sabotagem, 2005.
SEIXAS, Jacy Alves. Memoire et oubli: Anarchisme et Syndicalisme
revoluttionaire au Brésil. Paris: Editions de la Maison des Sciences de
l’Homme. 1992.
Resumos e ordem de apresentações do Grupo de Trabalho
Terça-feira: 09/06/15
1 – FABRÍCIO PÍNTO MONTEIRO
Pierre-Joseph Proudhon: Dialética Do Antidogmatismo
Esta comunicação possui como tema central o pensamento do “pai da anarquia”, Pierre-Joseph Proudhon. Sua meta, entretanto, não é simplesmente descrever suas ideias, suas propostas e conceitos, nem mesmo expôr detalhes de sua vida e trajetória política como uma narrativa linear na França de meados do século XIX. Em consonância com os objetivos deste Grupo de Trabalho, o pensamento e os atos de Proudhon serão problematizados tendo em vista elementos chave para a luta libertária em nossa atualidade – mais especificamente, a construção do antidogmatismo como um valor e prática social.
De uma forma simples, o entendimento do que seria a anarquia e o
anarquismo quase naturalmente teria como pressuposto tal valor. A luta
contra o autoritarismo, as restrições descabidas de liberdade, a
exploração e desigualdade social, a cristalização e imposição de valores
e formas de vivência, tudo constrói-se sob o princípio da possibilidade
de questionamento e renovação.
Por outro lado, a prática militante cotidiana do anarquista – a
prática humana cotidiana do anarquista, de modo mais geral – muitas
vezes é acompanhada por intolerância, apego a conceitos teóricos que
lhe acorrentam a ação, eliminação de possibilidades de diálogo e
harmonização porque o outro é visto como um inimigo (ou “traidor”, ou “falso” etc.), mesmo que esse outro não devesse ser considerado tão outro assim…
Problematizar essas questões sob o tema do pensamento de Proudhon,
não significa a busca de receitas para nossa vida presente em um passado
distante – rigorosamente falando, estamos construindo novamente aquele
passado justamente ao levantar tais questões e reflexões hoje. Trata-se
de observar outra época, outras relações sociais, outras experiências
(que podem também não ser tão outras assim…), o que pode nos auxiliar a romper a cegueira que, imersos em nossa própria época, muitas vezes impomos a nós mesmos.
2 – JOÃO GABRIEL DA FONSECA MATEUS
Por uma vida sem catracas! A luta popular contra o aumento da tarifa do transporte em Goiânia
O ano de 2013, especificamente nos liames dos meses de abril a junho,
proporcionou uma onda de manifestações em todo o Brasil. Lutas
específicas e amplas apontaram para a necessidade de transformações
sociais. Apesar do aspecto de ampliação que tomou as manifestações, nos
limitaremos nessa apresentação a discutir as mobilizações populares que
giraram em torno da questão do transporte coletivo urbano que marcaram
presença nas ruas de centenas de cidades, dando enfoque para os atos
ocorridos em Goiânia. Após isso, faremos uma breve exposição das
concepções gerais da Frente de Luta contra o Aumento da Passagem,
organização que figurou na coordenação de atos de luta sobre o
transporte na capital goianiense. Assim, ressaltaremos as concepções
libertárias desse movimento tais como a) autonomia política,
organizativa e econômica; b) apartidarismo; c) combatividade; d)
autogestão interna; e) livre associação dos indivíduos; f) ação direta;
g) horizontalidade interna; h) decisões coletivas; i) revogabilidade e
temporalidade das comissões; j) solidariedade entre membros.
3- VICTOR HUGO SOLIZ
Contribuição Epistemológica do Pensamento Libertário em Reclus e Kropotkin na Práxis do Ensino de Geografia
O propósito deste trabalho é problematizar a contribuição
epistemológica do pensamento libertário de Reclus e Kropotkin para a
práxis do ensino de geografia. Para tanto, dividirei minha apresentação
em 4 partes. A primeira parte será uma retomada histórica de todos os
pontos importantes para o desenvolvimento do trabalho, não apenas para
contextualizar evitando confusões (principalmente em relação a Paulo
Freire e aos discursos ultraliberais que se travestem de libertários),
mas também para evitar anacronismos. Então para atingir tal objetivo
será feita uma pesquisa bibliográfica que traga o surgimento da
pedagogia libertária e suas críticas ao modelo educacional da época. Não
é possível falar da pedagogia libertária sem falar das correntes
libertárias que deram condições para essa pedagogia surgir, então serão
resgatadas todas as visões políticas das diferentes cosmovisões que se
uniriam após o congresso de haia (1872), incluindo as visões políticas
de Reclus e Kropotkin. A segunda irá buscar compreender a geografia
escolar de modo a não apenas entender como se dá o processo de ensino de
geografia, mas o que se ensina e com qual objetivo se ensina. Essa
compreensão se apoiará menos nos livros e mais nas visitas às escolas de
modo a entender empiricamente como estas questões. A pesquisa
bibliográfica servirá como respaldo para a busca de elementos comuns em
escala nacional (já que é inviável acompanhar essas questões em todo o
país). A partir desses elementos se retomará as críticas que a pedagogia
libertária trouxe ao sistema de ensino que lhe era contemporâneo,
feitas no primeiro capítulo, de modo a analisar empiricamente quais
dessas críticas ainda são pertinentes de modo a se esboçar uma teoria de
crítica ao modelo de ensino geográfico hegemônico. Na terceira parte,
trago o relato de experiência prática com estudantes dentro de
determinada escola em uberlândia, ele se apoiará nas ideias libertárias
para a sociedade e para a pedagogia trazidas na primeira parte aliadas à
crítica propositiva criada na segunda de modo a se criar uma práxis na
qual se avaliará as limitações da pedagogia libertária no atual modelo
escolar. Na criação dessa práxis são indispensáveis as contribuições de
Reclus e Kropotkin com sua visão de que a geografia tinha que servir
como ferramenta de libertação das pessoas. Para atingir tal objetivo
serão escolhidas preferencialmente duas turmas nessa escola, uma do
sexto ano do ensino fundamental e outra do terceiro ano do ensino médio,
de modo a se averiguar como o maior tempo de exposição ao modelo
escolar disciplinador afeta a práxis que busca a autonomia. Depois será
feito um relato completo e detalhado de maneira próxima ao que foi feito
nesse relatório de estágio em anexo. Na última, trago uma reflexão
sobre a práxis detalhada na anterior, de modo a se fazer uma proposição
sobre o ensino de geografia dentro das escolas, para isso não bastará
verificar suas limitações que a práxis trazia, mas também fazer um
processo de autocrítica de modo a se conseguir se expandir as
possibilidades de ação dentro da escola, de modo a não apenas se buscar
uma proposição que busque alimentar a autonomia e a solidariedade, mas
também se fazer o deslocamento do conhecimento platônico idealizado para
prática calcada na realidade.
Quarta-feira: 10/06/15
4 – VILMAR MARTINS JR.
O Movimento Revolucionário 21 de Abril: A Desventura da guerrilha. Uberlândia-MG 1966-1967.
A chamada “resistência democrática”, esboçada no Brasil após o golpe
civil-militar de 1964, se constituiu como um dos principais enfoques da
historiografia brasileira a respeito do regime anterior à Constituição
de 1988. São poucas, entretanto, as abordagens que levam em conta
eventos ocorridos em cidades interioranas de médio porte, sobretudo fora
do eixo Rio São Paulo. Nosso objetivo é apresentar algumas reflexões
decorrentes de pesquisa desenvolvida para monografia no curso de
graduação em História sobre o “Movimento Revolucionário 21 de Abril” ou
“Guerrilha de Uberlândia”, como foi denominado por alguns veículos da
imprensa, um grupo de homens no Triângulo Mineiro que se propuseram a
organizar a luta armada na região.
Presos e acusados de terrorismo pelo Exército em 1967, o MR-21
constituiu-se a partir do contato com o PCB, PCdoB e, posteriormente com
o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), sob a suposta liderança
de Leonel Brizola, exilado no Uruguai. Apesar do grupo nunca ter
executado uma ação prática de enfrentamento direto contra o regime,
foram enquadrados e julgados sob a Lei de Segurança Nacional. O caso do
MR-21 permite-nos uma reflexão acerca da atualidade dos embates
políticos e sociais existentes no regime democrático, constituído a
partir de uma transição pactuada com a ditadura e da qual ainda
prevalecem algumas orientações ideológicas e normativas a respeito da
caracterização dos chamados “inimigos”. Nesse sentido convém refletir,
por um lado, sobre as estratégias de luta e enfrentamento político
contra o Estado e, por outro lado, sobre o aparato repressivo empregado
contra os movimentos sociais em função dos interesses dominantes no
país.
As principais fontes utilizadas na pesquisa, além da bibliografia
disponível, são entrevistas, documentos dos órgãos de informação e
notícias de imprensa. Pretende-se problematizar a visão de alguns dos
envolvidos no processo, como também, abordar a construção do fato sobre a
existência de “guerrilheiros” no Triângulo Mineiro tanto pela imprensa,
quanto pelas Forças Armadas à época.
5 – BIANCA ARANTES
MIB: Movimento Indígena no Brasil
As reuniões de vários povos indígenas ocorridas entre os anos de 1974
e 1980 (Assembleias Indígenas), que contabilizaram cerca de quinze
assembleias, inicialmente organizadas e apoiadas Cimi são consideradas
como o acontecimento fundador do Movimento Indígena no Brasil (MIB).
Elas provocaram uma ruptura na forma de atuação dos indígenas dentro da
política indigenista. Arrisca-se a dizer que foi a primeira vez que os
indígenas apareceram como sujeitos políticos e conseguiram tornar
pública a sua versão da história do Brasil. O MIB mostra que os
indígenas vistos durante séculos como incapazes são bons e quiçá os
melhores interlocutores de suas próprias culturas e os únicos
genuinamente aptos a representarem seus próprios interesses. Foi após a
Constituição de 1988 quando as culturas indígenas foram consideradas
como parte da nação brasileira que as organizações indígenas se
fortaleceram institucionalmente. E em 1989, o Movimento Indígena no
Brasil ganha novo fôlego com a Convenção Nº 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) declarando que os povos indígenas e
tribais deveriam gozar plenamente dos direitos humanos e liberdades
fundamentais, sem obstáculos ou discriminações. Além de oferecer
assistência jurídica aos povos indígenas e aliados, o Conselho
Indigenista Missionário (Cimi) mantém uma página na internet e um
jornal, para informar sobre a questão indígena e denunciar omissões e
desserviços do Estado. O MIB como um movimento social se insere no grupo
das organizações populares, que no Brasil ganharam força a partir da
década de 1970, inicialmente estabelecendo relações de oposição e
resistência ao Estado, visto como cerceador de direitos sociais e
políticos. Com o fim do Regime Militar em 1985, as mobilizações sociais,
saíram das ruas e se voltaram para os ambientes institucionalizados.
Assim como as demais organizações populares, os indígenas se
rearticularam interna e externamente, saíram de suas comunidades e
entorno, tornando os grandes centros urbanos, principalmente a capital
federal, o local da afirmação dos direitos indígenas e trazendo à
política indigenista novos atores políticos, atores estes não mais
indigenistas como Rondon, Ribeiro, os irmãos Villas-Bôas e etc., mas
chefes e líderes indígenas como Raoni Metuktire, Megaron Txukarramãe,
Mário Juruna, Ailton Krenak, entre outros. O MIB ganha ressonância
nacional e internacional com ênfase na reação ao sistema vigente, na
luta por direitos políticos e sociais, e pela conquista de igualdade de
direitos em relação aos demais cidadãos nacionais; além de defender o
direito à diferença cultural, que é peculiar à sua sobrevivência.
6 – LARISSA VIEIRA e LEANDRA SILVÉRIO
A relação do movimento negro contemporâneo com as formas de resistência no Brasil Colônia
Relacionar movimentos de resistência negra do tempo da escravidão com
os movimentos de luta negra contemporâneos. Como os quilombos e
movimentos abolicionistas, que surgiram no século XIX, e cuja finalidade
era de mudança política em benefício da sociedade negra.
Tratar também de outros grupos como as Irmandades que eram formadas
principalmente por negros forros ou não, que por meio da fé e da
religião se uniam, escravos africanos e escravos nascidos no Brasil
cultuavam ritos e valores deixados pela cultura africana. Além de
preservar laços de solidariedade como, por exemplo, subsidiar a compra
de alforria de outros escravos. Ali era um lugar de estar entre irmãos,
de assessoria e de se encontrar culturalmente. E assim perceber que os
movimentos de integração entre negros sempre existiu durante a história
do país, e que a partir do século XX vão surgir vários movimentos
desencadeados principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro e que vão
tomar alcance nacional.
Como a imprensa negra a imprensa negra uma forma de organização
escolhida entre os membros da população negra brasileira, como forma de
fugir da “reprodução da ideologia racista da época”. Nos folhetins
incluíam anúncios de eventos onde os negros e adeptos se encontravam e
eram o centro das atenções culturais e sociais, sem qualquer chance de
adentrar ali as ideais predominantes da cultura branca. Esses tipos de
Jornais têm forte ligação com as associações negras desde o início do
século XX. Ambas tinham o objetivo de suprir as necessidades de integrar
os negros na sociedade brasileira. O Jornal auxilia as associações a
ter mais visibilidade, ajuda na promoção de eventos culturais
recreativos fornecidos por ela.
Já as associações se atentavam principalmente com o racismo e a
discriminação vivenciado pelos negros e se preocupavam também com a
educação e a cultura que na maioria das vezes eram vetadas de chegar até
a comunidade negra, ou para a comunidade menos favorecida
financeiramente. Por isso ali eram discutidas questões como a
desigualdade racial no país, a diferença das condições de trabalho entre
negros e brancos, entre outras reivindicações, e para tentar diminuir
tal discriminação as associações e movimentos negros sempre investiram
na educação e na leitura, fazendo com que um maior número de letrados
negros pudessem fazer diferença no futuro.
Quinta-Feira: 11/06/15
7 – ADRIANO SKODA
A solidariedade como ação direta: a rede de produção política e científica dos geógrafos anarquistas
O presente trabalho busca apresentar como se configurou a rede de
trabalho entre os geógrafos anarquistas, enfocando principalmente nas
relações entre Élisée Reclus e Piotr Kropotkin. Reclus em seu trabalho
monumental Nouvelle Géographie Universelle (NGU), publicado
entre os anos de 1876 e 1894, contou com a colaboração de diversos
militantes e cientistas para o desenvolvimento de sua obra, tais como
Piotr Kropotkin, León Metchnikoff, Charles Perron. Estes trabalhos
realizados com o financiamento da editora Hachette, de París,
França, serviu como aporte econômico aos militantes anarquistas,
permitindo a estes realizar trabalhos políticos para além da dedicação
da obra geográfica, como foi o caso da revista internacionalista Le Travailleur,
dirigida por Reclus (autor da NGU) e Perron (cartógrafo da NGU), e que
contou com a colaboração fixa de Metchnikoff, Dragomanov e Lefrançais
(secretário editorial da NGU), publicada durante o período de exílio
destes na Suíça nos anos de 1870. Assim, o trabalho pretende aprofundar
na análise das relações de apoio mútuo entre os militantes afim de
compreender como essas práticas de solidariedade permitiram uma
ampliação das práticas e lutas de ação direta por parte dos anarquistas.
8 – RODRIGO ROSA DA SILVA
Educação anarquista, ciência e ação direta: a Escola Moderna de Barcelona
O presente trabalho propõe em sua análise não dissociação entre os
aspectos pedagógicos da Escuela Moderna de Barcelona (1901-1906) e seu
projeto político; acreditamos na íntima relação entre a produção
científica e a visão política de qualquer intelectual ou pesquisador;
também entendemos o aporte do racionalismo e do cientificismo à educação
proposta por Ferrer como parte de uma ação política consciente. Em
nossa concepção a Escuela Moderna foi sim uma escola, mas muito mais do
que isso: foi também uma editora; um laboratório científico e
pedagógico; um espaço de luta política e ação direta contra a igreja, o
estado e o capitalismo. Francisco Ferrer pode ser tomado como um eixo
central de uma complexa rede que envolveu cientistas, educadores e
homens e mulheres ligados à política, ao sindicalismo revolucionário e
ao anarquismo na Europa. O projeto da Escuela Moderna foi um produto
coletivo, resultado da colaboração de muitas pessoas. Era assim que
Kropotkin e Reclus entendiam que o pensamento evolui e que a humanidade
caminha rumo ao progresso: pela soma da experiência e do trabalho de
todos os homens e mulheres do passado e do presente, com vistas à
construção de um novo amanhã.
9 – CLÁUDIA TOLENTINO GONÇALVES FELIPE
Circulação anarquista de saberes no pós-guerra (1945-1969)
Nesta comunicação vou tratar de alguns resultados preliminares de
minha pesquisa de doutoramento, que está sendo desenvolvida na
Universidade Estadual de Campinas. Em linhas gerais, busco compreender
como alguns anarquistas colocaram em trânsito saberes e projetos
políticos através de documentos (livros, jornais e panfletos) produzidos
no pós-guerra (entre 1945 e 1969). Neste período, os escritos
anarquistas circularam a nível internacional, pois havia uma comunhão de
interesses e uma articulação entre movimentos libertários de diferentes
partes do mundo. Há, ao que parece, o uso de um “idioma libertário”,
termo genérico que remete a conceitos, argumentos e juízos através dos
quais os anarquistas enxergavam e liam o mundo à sua volta. Este idioma
dependia não somente da circulação de textos, mas também de pessoas
(representantes de grupos anarquistas e refugiados, em sua maioria). Por
que razão esta circulação de saberes e de pessoas se acentuou e ganhou
nova articulação no pós-guerra? Para sondar esta questão, trabalho com
conceitos como o de solidariedade, que parece ter ganhado novo sentido
quando mobilizado na crítica aos vários autoritarismos então vigentes, e
o de universalismo, que foi utilizado para contrariar os nacionalismos
que teriam motivado não apenas a(s) guerra(s), mas também os regimes
autoritários que ganharam força na primeira metade do século XX. Além
disso, pretendo compreender em que medida as tentativas de estreitamento
de laços entre militantes respondia ao aparato destrutivo das guerras e
analisar o lugar ocupado pelo Brasil neste cenário.
10 – THIAGO LEMOS
A emancipação das mulheres será obra das próprias mulheres?
Reflexões acerca do debate entre Lucía Sánchez Saornil e Mariano Vàzquez
nas páginas de Solidaridad Obrera
Nas primeiras décadas do século XX, o movimento anarquista e
anarco-sindicalista espanhol constitui-se num vigoroso movimento de
massas, colocando-se à frente de uma série de greves, atos, motins e
insurreições, com o objetivo de preparar a classe operária para o
processo revolucionário que daria fim ao capitalismo e ao Estado. Apesar
de obter esta forte penetração no mundo operário, chegando a fundar
sindicatos ( Confederación Nacional del Trabajo- CNT) e grupos
específicos ( Federación Anarquista Ibérica – FAI) que contavam com
milhões de trabalhadores e trabalhadoras, as questões de classe
sobrepunham-se às questões de gênero de tal modo, que acabavam por
aceitar e naturalizar a dupla opressão, tanto de classe quanto de
gênero, que as mulheres sofriam em relação aos homens, nos vários
espaços em que estavam inseridas: casa, fábrica, sindicato e grupo
específico, revelando que o machismo era algo que não se restringia à
burguesia, mas, que também encontrava-se profundamente enraizado no
proletariado. Com objetivo de reverter tal situação, iniciou-se uma
série de campanhas nos meios anarquistas e operários, através da
publicação de jornais, revistas e folhetos que buscavam
esclarecer/sensibilizar militantes e trabalhadores acerca da “questão
sexual”. O ponto de culminância desta campanha deu-se no debate travado
entre Lucía Sánchez Saornil e Mariano Vàzquez nas páginas do jornal
barcelonês Solidaridad Obrera, em fins de 1935. Tomando como fio
condutor este debate, o presente trabalho propõe-se a problematizar
algumas questões, a saber: A emancipação das mulheres será obra das
próprias mulheres? Os homens podem e/ou devem contribuir para a
emancipação das mulheres? Enfim quais sujeitos são os protagonistas e
quais são os coadjuvantes deste processo? Em linhas gerais, estas são
as perguntas que pretendo responder, ou melhor, formular ao longo desta
pesquisa ainda em fase de gestação.
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