Nas primeiras
décadas do século XX, o movimento anarquista e anarco-sindicalista espanhol
constitui-se num vigoroso movimento de massas, colocando-se à frente de uma
série de greves, atos, motins e insurreições, com o objetivo de preparar a
classe operária para o processo revolucionário que daria fim ao capitalismo e
ao Estado. Apesar de obter esta forte penetração no mundo operário, chegando a
fundar sindicatos ( Confederación Nacional del Trabajo- CNT) e grupos
específicos ( Federación Anarquista Ibérica – FAI) que contavam com milhões de
trabalhadores e trabalhadoras, as questões de classe sobrepunham-se às questões
de gênero de tal modo, que acabavam por aceitar e naturalizar a dupla opressão, tanto de classe quanto de gênero,
que as mulheres sofriam em relação aos homens, nos vários espaços em
que estavam inseridas: casa, fábrica, sindicato e grupo específico, revelando
que o machismo era algo que não se restringia à burguesia, mas, que também encontrava-se
profundamente enraizado no proletariado. Com o objetivo de reverter tal
situação, grupos femininos que surgiram
em Madrid ( encabeçados por Lucía Sánchez Saornil, Amparo Poch y Gáscon
e Mercedes Comaposada ) e em Barcelona (
encabeçados por Aurea Cuadrado, Pilar Grangel e Soledad Estorach) em torno de 1934 e 1935, começam a discutir
a necessidade da criação de uma organização feita por e para mulheres, com o
objetivo de problematizar a especificidade da questão feminina, que não poderia
mais ser reduzida à questão social, nos meios anarquistas. Como resultado
direto deste acúmulo de experiências, em 1936 surgirá primeiramente a revista (
maio) e depois a organização ( agosto), Mujeres Libres, que desempenhará um
papel fulcral durante a guerra civil e a revolução social desencadeada naquele
país a partir de 19 de julho do mesmo ano. A partir da exibição do documentário
“Indomables: uma historia de Mujeres Libres”, o presente cine-debate tem como
objetivo apresentar e discutir a “dupla luta” levada a cabo por esta
organização, que conseguiu mobilizar mais de vinte mil mulheres durante seus
quase três anos de existência, com o objetivo de destruir tanto o capitalismo,
quanto o machismo.
Referencias:
Ackelsberg, Martha . Free Women of Spain: Anarchism and the Struggle for the Emancipation of Women, AK Press:Oakland.2005.
FELIPE, Juan. Indomables: uma historia de Mujeres Libres. Zerikusia:Valencia,2012.
NASH,Mary. Rojas. Las mujeres republicanas en la Guerra Civil, Taurus, Madrid, 1999.
RAGO, Margareth.;BIAJOLI, Maria Clara Pivato.Mujeres Libres da Espanha: documentos da Revolução Espanhola. Rio de Janeiro: Achiamé, 2008.
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