A chama a crepitar! Em círculo formai!
Dançai!
Dançai!
De achorte
acesso o mundo iluminai!
Correi,
correi filhos do Povo!
Deixai a
pena e vinde ver...
Vinde
assistir ao quadro novo:
O burgo vil
a arder!
A chama
alegre, a crepitar,
Anda a
correr entre os casebres:
Arde um
covil de fome e febres:
A chama
heróica sobe ai ar...
A chama
heróica sobe, voa,
Sobre as
pocilgas – rubro véu:
E a
crepitar o fogo entoa
Uma canção
que sobe ao céu...
Quanta
miséria desenfecta
A chama
audaz de rubro tom!
O burgo é
velho, o rubro é bom!
A chama
sobe em linha reta...
O burgo
todo se esboroa,
A chama
varre a podridão.
Oh! Como a
terra será boa!
Oh! Quantas
mesas brotarão!
Colhe as
panteras no covil,
Queimada
vá! Colhe as serpentes!
A chama tem
línguas frementes,
E põe no céu
um tom febril
A chama faz
cair ligúrios,
E faz ruir
prisões também:
Lambe
quartéis, mantos púrpuros,
A podridão
que a terra tem...
E enquanto
o burgo se reduz;
As brasas
rubras, fumegantes,
As chamas
têm tons fulgurantes
Duma
potente e nova luz.
A chama
canta, salta e corre.
O velho
burgo tomba enfim...
Oh! Quanto
abutre cai e morre!
Oh1 Quanto
abutre em seu festim!
De face a
arder – que a chama cresta!
Oh párias
nus, vinde dançar,
Dançar em
roda, correr, cantar,
Que esta
fogueira é vossa festa
Neno Vasco
(1878-1920), anarquista luso-brasileiro.
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