domingo, 2 de setembro de 2012



A Marselhesa do Fogo[1]
















A chama a crepitar! Em círculo formai!
Dançai! Dançai!
De achorte acesso o mundo iluminai!
Correi, correi filhos do Povo!
Deixai a pena e vinde ver...
Vinde assistir ao quadro novo:
O burgo vil a arder!
A chama alegre, a crepitar,
Anda a correr entre os casebres:
Arde um covil de fome e febres:
A chama heróica sobe ai ar...

A chama heróica sobe, voa,
Sobre as pocilgas – rubro véu:
E a crepitar o fogo entoa
Uma canção que sobe ao céu...
Quanta miséria desenfecta
A chama audaz de rubro tom!
O burgo é velho, o rubro é bom!
A chama sobe em linha reta...

O burgo todo se esboroa,
A chama varre a podridão.
Oh! Como a terra será boa!
Oh! Quantas mesas brotarão!
Colhe as panteras no covil,
Queimada vá! Colhe as serpentes!
A chama tem línguas frementes,
E põe no céu um tom febril

A chama faz cair ligúrios,
E faz ruir prisões   também:
Lambe quartéis, mantos púrpuros,
A podridão que a terra tem...
E enquanto o burgo se reduz;
As brasas rubras, fumegantes,
As chamas têm tons fulgurantes
Duma potente e nova luz.

A chama canta, salta e corre.
O velho burgo tomba enfim...
Oh! Quanto abutre cai e morre!
Oh1 Quanto abutre em seu festim!
De face a arder – que a chama cresta!
Oh párias nus, vinde dançar,
Dançar em roda, correr, cantar,
Que esta fogueira é vossa festa

Neno Vasco (1878-1920), anarquista luso-brasileiro.





[1] Publicado em A Guerra Social,16 de julho de 1911, nº2, Rio de Janeiro.

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